Sair tarde do trabalho é encarado para muitos como sinal de produtividade, competência e lealdade, que, associado a ter muitos papéis na secretária (de preferência desarrumada), post-its e canetas, é ainda melhor. Pois eu acho precisamente o contrário. A meu ver, ficar, por sistema, até tarde no trabalho e ter a secretária desarrumada significa incompetência. Incompetência de organização e falta de capacidade para gerir o tempo e produzir com eficiência no horário certo. E mais ainda, incapacidade de cumprimento. Pois considero que, embora não tenhamos que nos cingir ao horário de trabalho, cronometrado ao minuto, o importante é o que se faz, a qualidade do que se faz e os resultados. Até porque quem sai tarde, salvo raras excepções, dispersa-se com tarefas desnecessárias, desfocadas dos objectivos. A não ser que o objectivo seja não ter objectivos…
Em Portugal, há muito esta mania de associar quem sai tarde do trabalho a quem trabalha muito. E também a ser mais merecedor de reconhecimento do que os que saem a horas. Uma coisa é haver picos de trabalho que nos obrigam a ficar até mais tarde, outra é assumir que ser dos últimos a sair é sinal de ser um “trabalhador dedicado e exemplar”. E isto diz muito sobre a falta de visão, de sensatez e de inteligência, até porque é preciso criar distanciamento e fazer pausas, para se encontrar o equilíbrio e produzir com a mente mais disponível, focada nos objectivos e restabelecida.
A pergunta que se deve impor é: quem sai tarde produz efectivamente? É eficiente e gere bem o seu tempo? O que é que faz durante o horário de trabalho? Até porque o importante é saber o que se produz e como se produz, mas isso parece não interessar. Então, os que saem a horas, que a bem dizer é na hora certa, acabam por ficar prejudicados, só porque em relação aos colegas “parece mal”. Que pecado capital!
Penso que é necessário mudar mentalidades e encarar o trabalho com um novo sentido de justiça e profissionalismo; como um espaço em que se associa a produtividade à eficiência e eficácia; como um tempo que não é perdido, mas sim útil e levado a sério. Como um espaço de realização e de verdadeiros ganhos, no qual se está verdadeiramente, e não onde se passa e perde tempo. Com verdadeiro sentido de gestão e responsabilidade, de visão e justiça.
Para mim, quem premeia o trabalho que, sistematicamente, vai para além do horário é mau gestor, inadequado e injusto, porquanto não promove a verdadeira eficiência e eficácia. Nem estimula e defende quem gere bem o seu tempo e demonstra ser produtivo.
Há sempre opiniões para todos os gostos. No entanto, não é preciso cronómetro nem régua, e muito menos lupa, para se perceber o significado de uma secretária desarrumada e da sistemática saída tardia do trabalho.
É preciso mudar de paradigma. Penso que assim teremos uma sociedade mais justa, feliz e verdadeiramente produtiva.