Hesitei muito antes de avançar com este artigo. Temia não estar suficientemente bem vestida, tonificada e hidratada, para levar a cabo esta missão pois, como toda a gente sabe, o desmazelo aniquila a capacidade cognitiva, a competência e o interesse intelectual das mulheres, de um modo geral.
«Acorda, Maria!», pode ler-se na tal crónica. Claro que #todassomosMaria, não é?
Esta foi a mensagem partilhada nos media esta semana: a mulher que não mantém a sua imagem corporal a 120% não merece que lhe sejam dados créditos pelo seu trabalho. Este mesmo jornalista, exclama através da sua crónica a uma profissional que «acorde» para a suposta incontornável necessidade de cuidar da sua imagem, já que «a imagem é tudo».
Talvez não seja a Maria, nem todas as mulheres, que têm de acordar. E, é por isso que hoje, mais do que um programa de emagrecimento, venho propor que algumas pessoas iniciem um «treino de hipertrofia cerebral».
O culto da imagem, do peso e das formas corporais, tem sido para nós mulheres uma espécie de ditadura que nos restringe pelo menos os pensamentos e, mais habitualmente, também os comportamentos, quer seja na relação com os outros, quer seja na relação connosco próprias. Isto acontece, para muitas pessoas, a todo o momento, mesmo na esfera mais privada, traduzindo-se em pensamentos repetitivos que ocupam todo o «espaço mental» de dúvida e de autocrítica feroz.
A maioria das mulheres sente uma pressão muito intensa para serem bonitas, para além de inteligentes; esculturais para além de criativas; perfeitas para além de competentes. E, como tal, a maioria delas passa cada dia, todos os dias do ano, a pensar nos defeitos do seu corpo, no que comeu e não devia ter comido, a culpabilizar-se por ter cedido ao cansaço e feito gazeta à aula de Body Pump.
As conclusões que muitas mulheres tiram disto, sobretudo se forem mais facilmente afetadas por este tipo de pressão social, é a de que não são suficientes, não merecem o sucesso (nem mesmo quando já o têm), e de que há algo de errado com elas, algo de que devem envergonhar-se.
Não querendo entrar em temas muito específicos, desta fragilidade na autoestima, deste sentimento de desmerecimento, e deste discurso negativo e penalizador, por vezes agressivo, para consigo mesmas, muitas mulheres desenvolvem várias condições de sofrimento psicológico relacionadas com a sua identidade, não só na sua dimensão física.
É então assim que podemos verificar a quantidade de mulheres que sofrem de síndrome do impostor, ou mesmo de condições patológicas como a dismorfofobia, em que as mulheres ficam demasiado centradas nos «defeitos» dos seus corpos, alguns deles invisíveis para as outras pessoas, mas francamente valorizados por si próprias.
Nesta busca da perfeição, que representa uma alteração da imagem corporal e também uma enorme angústia pela avaliação que os outros possam estar a fazer da sua imagem. É muito comum que algumas mulheres desenvolvam perturbações de humor (como ansiedade e depressão), ou que bloqueiem na sua evolução nas outras áreas de vida, nomeadamente, a laboral. As mesmas áreas relativamente às quais fomos «convencidas» de que tinhamos de ser fisicamente perfeitas.
Preocupa-me realmente, os efeitos que formas de agressão menos diretas ou explícitas (se é que podemos dizer isto) podem causar de “derrocada” no amor-próprio e na identidade de algumas pessoas, sobretudo das gerações mais jovens, quando confrontadas com este tipo de ideias, que encontram disponíveis à distância de um scroll.
Para aqueles que não medem o peso das suas palavras, ou não entram em contacto com os preconceitos e estereótipos que habitam o seu mundo interno, sugiro algumas posturas de Yoga da sensatez.
Essas pessoas ficariam surpreendidas com o poder que alguns Assanas (i. é., posturas de Yoga) focados na tolerância, na responsabilidade social e no respeito pelo outro, poderiam fazer pela sua tonificação mental.
Talvez seja, agora, a nossa vez de dizer: «acordem».
Todos nós temos aspetos do nosso corpo e da nossa personalidade, que gostariamos que fossem diferentes. Porém, nem tudo pode ser modificado e aquilo que parece reprovável para alguns – «que horror uma pivot televisiva que não é escultural!!!» – pode ser simplesmente uma característica neutra para os outros, que só passa a parecer um problema depois de ser utilizada como «arma de arremesso».
As mulheres, a nossa competência e a nossa força, não se mede na balança.
Penso que o mesmo se deve aplicar a todas as pessoas.
#todassomosMaria
Adorei o que escreveste querida Diana; mesmo não tendo dado pelo evento a que te referes. Também não vejo TV.
Acho que o yoga da sensatez e uns bons ASSANAS, deviam ser praticados diariamente por todos nós.
🤩🙏Abraço!!
Muito obrigada!
Algumas coisas mesmo não merecendo serem vistas, merecem a nossa reflexão.
Fico muito feliz por apreciar as minhas palavras.
Outro abraço!
O treino de hipertrofia cerebral é capaz de não resultar em acéfalos.
Antes de qualquer tentativa de Assanas focados na tolerância, responsabilidade social , e respeito ao próximo, eu propunha um alinhamento dos chakras da boa educação, dos bons valores , da empatia e do sentido de humanidade.
Que este senhor cronista, e todos nós não nos esqueçamos nunca que: A mulher é a nossa primeira casa, é no seu ventre que o coração que nos mantém vivos começa a bater, e é la que sem termos consciência, recebemos as primeiras doses de AMOR.
Força a todas as “Marias” que são belas e talentosas, só pelo facto de serem mulheres.
Muito obrigada pela sua generosa contribuição.
Fico muito grata pela sua contribuição na disseminação neste nosso trabalho e pelo apoio que transmite!