Não usou flores no cabelo mas fez uma revolução à sua maneira, nos anos 60. Esteve na prisão durante 6 meses e durante três dias partilhou o tecto com Mike e Keith, dos Rolling Stones. Tornou-se amigo de muitas personalidades influentes dos anos da revolução do amor e algumas delas dormiam nos quartos livres do seu apartamento quando passavam por Londres. Em cada dia dessa (rev)evolução viu o mundo através das suas lentes. Por isso, só podíamos estar a falar de John “Hoppy” Hopkins.
Ao acaso, conheceu a fotografia através de um presente de terminus da universidade, que o seu padrinho lhe ofereceu. Corria o ano de 1958. Com o orgulho ao peito, subia ao palco para receber o diploma da Universidade de Cambridge e, com 20 anos, acabava assim o curso de “Física e Matemática”. Entre os abraços e os parabéns, também recebeu uma Agfa Sillete das mãos do padrinho. E a mudança estava feita. Apaixonou-se por fotografia nos fins de dia, quando saia do emprego. Durante o dia era Físico Nuclear, depois disso, fotógrafo.
O rumo estava tomado e a fotografia passou a preencher o seu dia. E, sem saber, começou também a preencher o de muitos outros. Em 1960 chegou a Londres e instalou a sua criatividade. Ligou o hemisfério direito do cérebro e deixou que o pensamento simbólico inundasse esse campo de conhecimento. Sorriu ao ver que o “The Guardian” tinha publicado as suas fotografias da exibição de Henry Moore e nunca mais parou. Colaborou com o “The Sunday Times”, “The Observer”, “Melody Maker”, “Jazz Journal” e “Piece News”.
No bolso trazia os direitos da comunidade, a música e a vontade de mudança. Ao deixar que esse pedaço de si transbordasse, deixou também que se fosse alastrando, pelo “submundo” londrino, uma nova corrente “underground” que “quase-baptizou. Entre 60 e 66 fotografou ícones musicais, foi os únicos a fotografar os Stones de manhã e até os levou a tomar o pequeno almoço porque estavam em estúdio quase a dormir. No seu portefólio também existem registos de prostitutas londrinas, bares underground, protestos, cenas de droga ou hipnotismo, marchas da paz e ícones políticos que lutaram pelos direitos civis. Entre eles, Malcolm X e Luther King.
A dimensão estética que a fotografia desempenhava na sua vida fê-lo mover montanhas. Lutou pelos direitos, escreveu sobre eles e, durante o tempo na prisão, foi financiado pelos Beatles para que uma página da “The Times” fosse preenchida com um anúncio sobre a legalização das drogas, sublinhando a “impraticabilidade da lei vigente”. No seu registo informal, conquistou e foi conquistado. Apesar de agora confessar que, se voltasse atrás, teria mais amor e consideração pelas mulheres, Hoppy era fervilhante em sonhos e amor. Apreciava os bons momentos que a vida lhe servia e gostava de música, literatura e artes, em geral.
Talhado por uma personalidade forte, Hoppy fundou uma revista alternativa, a “The International Times”. O impulso da sua criação foi financiado por Paul McCartney, que lhe doou uma quantia generosa de dinheiro. Numa altura em que os media eram muito direccionados para o mesmo tipo de conteúdos, a publicação que Hoppy assinou rompia com os paradigmas da sociedade e abria espaço a outras formas de pensamento. A acompanhar os rasgos de “vida underground” Hoppy também abriu um clube nocturno psicadélico, o “UFO”, no qual os Pink Floyd deram os primeiros passos. Ao palco também subiu Hendrix e a sua guitarra mágica. Agradeceu sempre a colaboração com os artistas e considera, hoje, ter sido uma honra fotografar, trabalhar e editar material de pessoas que tanto admira ou admirava. Organizou festivais e transmitiu o espírito que pretendia sobre eles: eram amistosos, tranquilos e, apesar da dose q.b. de loucura, serviam para fraternizar e eram audaciosos.
Adepto dos direitos humanos e activista por natureza, corria-lhe no sangue o impulso da mudança. Com Rhaune Laslett fundou a London Free School, um sistema gratuito de ensino e educação para adultos, numa espécie de comunidade de acção onde os valores eram transmitidos sem propinas. Depois de importar esta ideia de algumas Universidades Americanas, o projecto de Hoppy foi apelidade de “coligação anárquica temporária”. Mas nada daquilo que fazia era sem ordem. Nada daquilo que fez está na lista de arrependimentos mas ter aprendido a andar de patins só aos 42 anos aflige-o e deseja tê-lo feito mais novo. A tranquilidade com que encara a vida faz parte das aprendizagens dos anos 60, bem como do espírito de meditação que existia no ambiente psicadélico Londrino, no qual foi guia informal.
Através das lentes também deixou que a magia acontecesse e nos anos 70 mudou-se para as películas de filme. De concertos a documentários sobre refugiados políticos e exílios, Hoppy documentou acontecimentos que marcaram a segunda metade do século XX. Lennon, Harrison e Starr doaram-lhe algum material de filmagem e deixou que a generosidade fosse sua companheira diária. Nos anos 80 e nos tempos que se seguiram, John Hopkins trabalhou no “The Arts Council”, no “The Home Office”, fez pesquisa social na “UNESCO”, editou o Jornal do Centro de Estudos Avançados de Televisão, foi técnico de Jornalismo na imprensa de vídeo , co-fundou cursos de longa distância de edição de vídeo e fez artigos em bioquímica de plantas, num dueto entre palavras e fotografias macro que tirou a flores e outras plantas.
Hoppy funcionou, assim, como acelerador de partículas da revolução cultural dos anos 60, em Londres. Espalhou essa mensagem na perfeição e a sua importância ficou registada. Acredita nos instintos e fotografou sempre com rolo de 35mm, a preto e branco. Usou muitas lentes e deixou que muitas lentes o captassem, não só na fotografia como também em todos os media. E por isso, ficou na história por ser mudança. Hoje, é inspiração. E uma lufada de ar fresco nas garras prepotentes das democracias actuais.