Culpar o mundo resolve?

Todo mundo já esbarrou por aí com alguém que vive sempre a reclamar… Aquela sensação de que nada satisfaz, nem ninguém ou quase ninguém agrada. Pode ser que já tenha esbarrado ou essa pessoa seja você – mesmo que não perceba ou assuma.

Mas a questão em pauta nem é descobrir o alvo. É mudar esse contexto. É enxergar que é possível mudar – basta querer!

Eu particularmente, tenho contatos diretos que são assim: pessoas “reclamonas”. Por vezes, parece até que todas se juntam para serem chatas ao mesmo tempo, e o que me leva a questionar nessas horas se a chata sou eu, por talvez implicar ou até exagerar. Até posso chata ser – também – porém os pontos que me irritam são os que faço, hoje, questão de não ter. Negatividade, mania de rejeição e perseguição, vitimização e falta de objetividade. Julgo então que, talvez, desse tipo de chatice escapo e posso mesmo reter.

Sempre é mais fácil apontar para outro do que para nos próprios e muitas vezes, causas internas entravam a vida. A teoria dos espelhos, de Jacques Lacan, médico, psiquiatra e psicanalista francês, esclarece que “só conseguimos enxergar características em outras pessoas que também existam, ou já existiram algum dia, dentro de nós”. Ler isso até pode incomodar, pois nos obriga nos analisarmos e autoavaliar.  Mas se o processo de evolução está aí para o buscarmos, por que não? Encolher nossos defeitos, só enaltecer o que capaz de nem ser e detonar no outro, o que você é, traz confusão. Para si e para além.

A fuga de si mesmo faz que pareça uma eterna bola de neve. O correr em círculos.  Só há uma maneira de acordar e mudar a rota! Autenticidade sendo primordial. Fugir de si mesmo nos dá uma falsa sensação de paz interior, a qual nunca nos fará feliz. É a tal “paz de bolha de sabão”: quando ela arrebentar, a queda pode ser mesmo alta e destrói. Enquanto nos ocupamos a falar dos outros e não enxergamos que o problema pode ser a forma de agirmos ou pensarmos, a vida não anda. Ela continua e passa, rápido inclusive. Não te conto novidades, pois isso todo mundo já sabe.

Dr. Sigmund Freud dizia “quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Naturalmente, uma pessoa “reclamona” fala mais do outro do que de si e quando estimulada a refletir sobre isso, seja em terapia formal ou em terapia entre amigos, a tendência é fugir. Dela mesma e de quem emite o alerta.

Não que seja muito mal falar de alguém conhecido ou palpitar sobre a vida alheia. Falsidade seria dizer que não falamos nadinha, “nunquinha”, de ninguém. Mentira seria! A questão é quando o falar do outro impera e funciona como cortinado para nos tapar e nunca não nos enxergarmos.

Tenho costume de dizer que de nada interfere, para a pessoa que reclama de tudo e de todos, o local que ela estiver. O tal dos problemas lá também estarão. Pode ser Japão, Brasil, Portugal ou Paquistão. Em qualquer distância, a questão não é o lugar. É a pessoa e sua mente. Os pensamentos. Os olhos fechados e os ouvidos tapados. É não enxergar os detalhes, nem ouvir os pormenores. É quase um egocentrismo irritante!

É falar da “boca para fora” que sabe que há pelo mundo problemas maiores, mas sempre enumerar que os mais intensos pertencem a ela e só ela, somente ela sabe do que passa – como se algo mesmo muito sério se passasse. Mas é só o tempo que está chuvoso, o bolo que solou, o carteiro que não passou, o arroz que acabou. Algo simples vira um grande escarcéu.

É sobre não valorizar pequenos momentos de verdade, o quotidiano e os detalhes.

É não perceber que as reclamações excessivas pesam, seja lá em quais relações forem. Família, amigos, amor, trabalho. E carregar o peso do outro não é legal. É abusivo e cansativo. Para lidar com pessoas negativas é preciso sermos diretos, sem alimentar a tal negatividade e ajudando a estabelecer limites necessários.

A negação pode ser mesmo é um mecanismo de defesa, da mente humana, para fugir de assuntos muito complicados ou esconder verdades. Uma forma de protegermos o estado emocional, mesmo que quase sempre inconscientemente. Mas o negar leva a fuga e estar sempre a fugir não é nada que nos leve a seguir calmamente.

As coisas acontecem na vida, boas ou não tanto, para percebermos os porquês. Algumas ficam sem respostas de imediato. Outras nem nunca chegam a ter. E as restantes, a vida mostra que mudanças são necessárias e falamos de crescer, amadurecer e perceber que pessoas entram e saem das nossas vidas, de acordo com os momentos, com os acontecimentos e vibrações. E fica tudo bem, garanto.

Se você não é a pessoa que reclama, encontre um equilíbrio entre empatia e distância: tente entender que as pessoas negativas podem estar passando por problemas pessoais, mas também se preserve para não faça de ti, uma continuação de só reclamação! Evitar ser a esponja que absorve tudo e depois trava ou espalha.

Tem quem queira solução. Mas há quem queira problema (mesmo que não assuma essa decisão). Há quem escute e acolhe. Tem quem repele e afasta.

Por mais que tentamos e devemos ser empáticos, precisamos também nos pôr em primeiro lugar. Para ajudar o outro é preciso que estejamos bem. Se entrarmos na vibração da rabugice, rabugentos corremos o risco de ser e mais energia negativa há de espalharmos e maior ambiente “pesado” há de ter!

E então vale mais ver a vida passando o tempo à reclamar ou mais vale viver de verdade, certo de erros e acertos, dias alegres, outros nem tanto, mas com a afirmação que dias melhores virão, que não existem acasos e que tudo, daqui, fica como lição. Pela dor ou pelo amor, o dever de casa precisa ser feito. E esse não é feito na escola. Não depende de professor, nem de lápis ou papel. Depende de você perceber que passar a vida a reclamar vai ver o tempo voar. A escolha é sua, é nossa. Faça acontecer! Não se vitimize, não desdenhe, não resmungue. Seja a diferença. Seja para somar, agregar, acarinhar, acolher e zelar.

Seja a diferença!

Nota: Esse texto foi escrito seguindo as regras do português do Brasil

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Vamos acampar este verão

Next Post

Nova Iorque

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

O Tal do Amor

O amor, aí o amor… afinal o que é? Dizem que é  um sentimento que não se consegue explicar, um tal …