Recentemente, comemoraram-se os 75 da libertação dos prisioneiros de Auschwitz. A década de 40 do século XX foi provavelmente a década mais fatídica e negra da História da Humanidade. Milhões de mortos e uma Europa devastada na miséria e na pobreza, mas nada é obra do acaso.
Tudo foi resultado de um plano maquiavélico de um lunático chamado Adolph Hitler e da sua vontade de implementar o III Reich, um império perverso onde apenas a raça ariana poderia subsistir, existindo um ódio irracional perante os judeus que segundo a sua vontade teriam de ser exterminados. Os ideais de Hitler eram fascistas e foi a sua ascensão politico-partidária (Partido Nazi) que permitiu a execução dos seus planos maquiavélicos. Mas o que é o fascismo em abono da verdade e quais as condições e circunstâncias que permitiram o seu surgimento?
O Fascismo é uma ideologia política ultra-nacionalista e autoritária caracterizada pelo poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte controlo da sociedade e da economia. As várias características em comum dos países fascistas são o nacionalismo extremo, desprezo pela democracia eleitoral e pela liberdade política e económica, crença numa hierarquia social natural e no domínio das elites.
Ao navegarmos pela História convém recordar o que se passou no final da primeira Guerra Mundial e o contexto sócio político da Itália no pós-guerra. A Itália era um país mergulhado na pobreza e estava dependente da ajuda das potências aliadas para se reerguer enquanto nação. Essa ajuda teimava em aparecer e isso levou a uma onda de revolta em Itália. Um jornalista revolucionário do jornal Avanti destacou-se nessa onda de revolta: Benito Mussolini.
Com efeito, Mussolini entendia que o Liberalismo não era solução para a Itália e que o orgulho italiano devia prevalecer. Havia o ensejo de recuperar os valores imperialistas do Império Romano, onde o indivíduo era subordinado à Nação e onde os seus interesses deveriam estar subordinados aos superiores interesses de um Estado totalitário e repressivo. Há uma clara compaginação entre os princípios defendidos por Mussolini e Nicolau Maquiavel, autor da obra O Príncipe, onde os fins justificam os meios para manter um Estado forte, coeso e imune à anarquia. Thomas Hobbes também defendia essa concepção no seu livro O Leviatã, onde o Estado deveria ser autoritário para evitar rebeliões e a instabilidade social e política.
Em setembro de 1919, o Fascio de Combate apoiou a invasão de Dalmácia (costa oriental do mar Adriático) pelo poeta e ex-combatente Gabriele d’Annunzio, que, liderando 2.600 ex-arditi (os “arditi” eram tropas de choque do exército italiano na Primeira Guerra Mundial), invadiu o porto de Fiume e ali permaneceu por mais de um ano.
A partir de então foram fundados diversos “fascios” em toda Itália e o movimento começou a ganhar sua primeira expressão: milícias paramilitares, os Camisas Negras (milícia criada em homenagem aos “arditi“, que usavam uniformes negros), que agiam em nome do nacionalismo, do anticomunismo, do anti-pacifismo e do antiliberalismo.
Os Camisas Negras atacavam sindicatos, jornais e movimentos políticos, espancavam grevistas, intelectuais críticos ao fascismo, membros das ligas camponesas e de qualquer outro grupo que se manifestasse de forma contrária ao ideal fascista. Assim nascia o fascismo e a repressão às liberdades individuais. O Rei Victor Emanuel III cede o seu poder a Benito Mussolini e é o novo líder da Itália com a designação “Il Duce“, uma espécie de novo Júlio César de um novo Império Romano.
Hitler e Salazar foram inspirados pelo mesmo caminho de Mussolini e criaram a repressão e ditadura na Alemanha e Portugal respectivamente. Quem fosse contra teria a sua sentença de morte. Hitler criou a Gestapo e Salazar a PIDE, polícias repressivas criadas com o intuito de executar quem fosse adversário dos seus regimes. Ficaram célebres a Noite das Facas Longas em 1934, quando Hitler mandou executar 60 membros do partido Nazi que eram contra o seu regime e o assassinato do General Humberto Delgado pela PIDE em Espanha porque este ousou desafiar António de Oliveira Salazar.
À semelhança de Mussolini, Salazar e Hitler chegaram ao poder porque os seus países estavam fragilizados economicamente e o sucesso de Salazar como Ministro das Finanças e o sucesso de Hitler na sua política de obras públicas foram o perigoso venenoso enganador que os permitiram alcançar o poder e serem venerados. Somado também ao fracasso do liberalismo. Penso para mim que o fracasso do liberalismo foi a porta de entrada do fascismo.
A História do fascismo é longa e é feita de muitos detalhes que davam para escrever milhões de páginas. Não vou escalpelizar ao detalhe o que aconteceu. Apenas quero salientar que o fascista é perigoso e mais do que uma concepção ou ideologia política é um estado de espírito que pode contagiar negativamente qualquer indivíduo. E pode envenenar qualquer instituição ou organização. O fascismo está no sangue dos narcisistas e egocêntricos e esconde-se sempre atrás da falsa promessa de uma organização mais coesa e unida. Todos os fascistas promovem o culto da personalidade e querem ser venerados como Deuses. Devemos estar atentos a esses sinais e qualquer organismo deve possuir mecanismos de destituição democrática quando um político ou líder prepotente abusa do seu poder e provoca danos perniciosos na comunidade em que está inserido.
Finalizo com duas frases de dois livros de Paulo Coelho. No livro As Bruxas de Portobello, ele refere: “Não devemos entregar os nossos sonhos nas mãos daqueles que os podem destruir”. No livro Manuscritos encontrados em Accra, ele refere: “As nossas cicatrizes devem falar mais alto do que a lâmina da espada que as causou” Devemos aprender com os momentos mais negros da História para evitar que eles se repitam. Dizer é fácil. O mais difícil é conseguir.