O ano de 2016 começou há poucos dias. Enquanto em Lisboa soavam as 12 badaladas, em Brasília (capital federal) eram as 19 horas.
O Brasil começa o ano com uma saúde debilitada: uma economia em recessão, um gigantesco escândalo de corrupção na Petrobras, a maior empresa em território nacional (numa operação que ficou conhecida como “Operação Lava-Jacto” e onde podemos encontrar nomes bem portugueses, como o de Ricardo Salgado, e ramificações com o processo Marquês) e uma crise política que ameaça a permanência da presidente Dilma Rousseff no cargo, enquanto os seus opositores pedem a sua demissão (se isso acabar por acontecer, será a segunda vez na história da nação que um presidente é afastado do cargo). Essa soma maliciosa tirou os Jogos Olímpicos das primeiras páginas dos jornais, o segundo grande evento desportivo que o Brasil receberá num espaço temporal inferior a dois anos, tendo sido o primeiro o Campeonato do Mundo em 2014. A política e a economia ensombram a vida dos brasileiros e nem a trilogia das novelas, futebol e samba consegue alegrar um pouco mais a vida de 400.2 milhões de almas.
As desigualdades sociais diminuíram bastante desde que o PT chegou ao poder. O abono de família e as vagas guardadas nas faculdades para os alunos de raça negra são algumas das medidas criadas por Lula da Silva e Dilma Roussef. Só que o ano de 2016 pode ser um ano de viragem e desta vez pela negativa. A pobreza e o desemprego podem voltar a aumentar.
As previsões do mercado financeiro indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) do país se contraiu 3,7% em 2015, o pior resultado dos últimos 25 anos, e a tendência de queda continuará este ano. Os analistas do setor privado não acreditam que a recuperação da economia brasileira seja possível em 2016, se não for encontrada uma saída para a crise política. Só que Dilma Roussef não tem descanso, nem dentro do seu próprio partido político. A Fundação Perseu Abramo, braço de pesquisa e educação política criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT, a mesma formação política de Dilma Rousseff), foi uma das entidades subscritoras de um documento lançado a 28 de Setembro, com críticas à sua política económica. Uma das maiores críticas é à política cambial, que defende ser “desastrosa” para a política industrial do país, por facilitar as importações. O que leva os economistas a preverem o risco de o Brasil enfrentar uma crise bancária em 2016, devido à paralisação das empresas investigadas pela Operação Lava-Jato, que apura crimes relacionados com a Petrobras. As dívidas de 29 companhias, que estão afiançadas pelos bancos, chegam a 1 bilião de reais (232 mil milhões de euros).
Vai ser na capital da República Federal Brasileira que a nossa história vai-se centrar. Já a nível político e mesmo não sendo envolvida directamente no esquema de corrupção da Lava-Jacto (ao contrário de grandes nomes do Partido dos Trabalhadores, como é o caso do Tesoureiro ou mesmo do ex-Presidente, Luís Inácio Lula da Silva), a presidente precisará de obter apoios para evitar que a sua indomável base aliada permita a abertura do julgamento político. Se este julgamento for para frente (o que é possível, mas será, certamente, bastante demorado), o poder será entregue ao vice-presidente, que, se este, por algum motivo, não puder avança o presidente do senado (que, tal como em Portugal, é uma das figuras mais importantes do país). Ai reside outro problema, pois nenhum destes dois políticos é consensual. Toda esta luta fratricida poderia ser uma grande janela de oportunidade para que a oposição voltasse ao palácio do planalto. Só que essa oposição está dividida, sem um projeto de governo. No setor privado, também poucos se salvam. Donos de construtoras (e de um banco), que com as suas grandes doações eleitorais conseguiram garantir contratos milionários com o poder público, estão na cadeia.
Os problemas políticos também impediram que em 2015 fosse aprovada a grande parte das medidas do pacote de ajuste fiscal que o governo lançou para solucionar os problemas económicos do país, uma questão fundamental que deve ser resolvida este ano para permitir a retoma do crescimento. Com uma inflação próxima dos dois dígitos, um aumento no índice de desemprego e a restrição ao crédito, a incerteza política e económica levou o real brasileiro a perder mais de 48% do seu valor, no ano passado. O dólar chegou a bater o seu recorde histórico, desde 1994, em 2015, ao cruzar pela primeira vez a barreira dos R$ 4.
A escolha do Rio como sede olímpica, em 2009, aconteceu num clima de euforia económica (ainda no governo de Lula da Silva) e estabilidade política no Brasil, panorama antagónico ao que o país terá com que lidar este ano. O clima de festa com que os brasileiros esperavam receber os Jogos Olímpicos de 2016 foi contaminado pelo pessimismo em relação à delicada situação que a maior economia da América Latina atravessa. Apesar dos efeitos negativos que a desvalorização do real tem sobre os preços no mercado interno, a valorização da moeda americana poderia favorecer a chegada de mais turistas aos Jogos Olímpicos de Rio e uma oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo o melhor de si mesmo. Assim, todos os “gringos” poderiam ver com os seus próprios olhos o porquê de chamarem ao Rio de Janeiro de “cidade maravilhosa”.
Os jogos olímpicos estão cercados por uma aguda crise política e económica que está a ofuscar os seus preparativos. Só que o presidente do comité olímpico internacional (COI) desvaloriza a instabilidade política que o país está a viver e acredita que o Rio de Janeiro vai organizar um grande evento.
Porém, até as olimpíadas chegarem, os nossos “irmãos” vão ter que correr uma longa maratona. Como não estamos no oráculo de Delfos para podermos adivinhar o futuro, temos que explicar o passado. É no passado que está a chave para o futuro. Os acontecimentos dos últimos meses no Brasil impossibilitam qualquer prognóstico certeiro para o Brasil em 2016.
Que país é este em que tudo isso acontece? Que país será este em 2016?