Cor da pele é o primeiro bilhete de identidade

É comum ouvirmos as expressões “afro-americano”, “luso-brasileiro” ou “hispânico”, quando os media querem referir a origem de um individuo. Mesmo que a nacionalidade seja a mesma que a de um individuo que seja natural de um determinado país, a cor da pele continua a ser a etiqueta de identificação que mais se destaca, evidenciando-se a origem da pessoa.

Frequentes são as situações em que os meios de comunicação fazem referência a filhos de imigrantes, salientando a sua origem, quando, na verdade, são tão portugueses, ingleses, norte-americanos ou franceses, pois também nasceram nesse país e não na nação de origem de seus pais, mas a aparência continua a ser o traço mais distintivo e, geralmente, aquele que prevalece, conduzindo a dificuldades em definir a noção de identidade.

Numa altura em que a globalização é uma realidade que vivemos no dia-a-dia, o fenómeno da miscigenação, que mistura raças, etnias e diferentes povos, produziu uma geração que se encontra neste dilema, a quem a Sociologia apelidou de “híbridos”. Vivem entre duas culturas, e encontram dificuldades em descobrirem o seu lugar no mundo, quando este persiste em olhar apenas para a cor da pele. Como afirma Néstor García Canclini ,“a ênfase na hibridação não enclausura não é uma pretensão de estabelecer identidades ‘puras’ ou ‘autênticas’. Põe em evidência o risco de delimitar identidades locais autocontidas, ou que tentem a afirmar-se como radicalmente opostas à sociedade nacional ou à globalização.”

Apesar das políticas de apoio ou discriminação positiva a favor das minorias e da geração de segunda linha serem medidas que tentam eliminar as desigualdades e garantir que todos têm acesso às mesma oportunidades, estas medidas partem do princípio que um cidadão, que tenha origem noutro país, ou tenha adquirido a nacionalidade após fazer o pedido formal da mesma, não é um cidadão como os outros que nasceram nesse país e a origem dos seus país é reportada a essa mesma nação. Na realidade, embora sejam bem-intencionadas, estas medidas ainda acentuam mais o elemento da diferença, evidenciando a origem diferente desses indivíduos, algo que estes não devem ter vergonha, mas que também não devem ser constantemente relembrados, quase que dizendo que são portugueses, ingleses, norte-americanos ou franceses de segunda linha.

Nos dias de hoje, a mistura e convivência entre raças é cada vez mais comum, espelhando que a diferença entre um jovem português, de origem portuguesa, e um jovem português, de origem cabo-verdiana, não é nenhuma. Designações como aquelas que os media continuam a usar deixam de fazer sentido e só prolongam o status “de pessoa de cor”, que na sociedade moderna, onde as fronteiras físicas, espaciais e culturais foram praticamente esbatidas pelo progresso tecnológico, já não faz sentido.

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Em busca da originalidade “perdida”

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