Caro leitor(a), esteja à vontade, não contém spoilers.
“This Is Us” explora notavelmente a complexidade do sistema familiar e das intrincadas emoções humanas. A série aborda temas universais, como o amor, perda, identidade e redenção, de uma maneira profundamente crua e honesta.
Desde a sua estreia em 2016 e, até ao seu fim, a trama criada por Dan Fogelman somou seis temporadas e conquistou atenções em todo o mundo, com uma narrativa inteligente e comovente. Assente essencialmente no drama familiar, com toques subtis de comédia a darem-lhe uma certa leveza que se revela agradável.
A sua estrutura narrativa é um dos aspectos que torna a série tão distinta. A história é contada através de diferentes linhas temporais, alternando entre o presente e o passado, mostrando a evolução dos personagens ao longo dos anos. O modo como os eventos se desenrolam nos episódios pode parecer confuso inicialmente (e é) e confesso que, ao fim de alguns episódios, já me enfadava com esta ginástica mental constante.
As personagens são o coração pulsante da série, que é, acima de tudo, sobre pessoas. Pessoas reais, com defeitos e virtudes. Cada membro da família Pearson é retratado de maneira autêntica e profunda, com as suas próprias lutas, falhas e alegrias. Jack (Milo Ventimiglia) é o patriarca, gentil e afectuoso, que procura ser o melhor pai possível, enquanto enfrenta os desafios do quotidiano. A sua esposa Rebecca (Mandy Moore) é uma mãe amorosa e imperfeita, a braços com as ambiguidades que a maternidade traz.
Os três filhos do casal também são personagens igualmente complexas. Kevin (Justin Hartley) é um actor talentoso, com uma certa tendência autodestrutiva, que luta para encontrar significado e propósito na sua vida, além da superficialidade da fama holliwoodesca. Kate (Chrissy Metz) enfrenta, desde sempre, desafios relativos à sua autoestima e saúde, lidando com os altos e baixos da sua jornada de perda de peso e aceitação pessoal. Já Randall (Sterling K. Brown) é um advogado de sucesso, ainda a lidar com o resultado da mescla cultural entre as suas raízes afro-americanas e a sua família adoptiva.
É provável que quem é de lágrima fácil, seja desafiado nos momentos mais intensos. “This Is Us” tem a capacidade de fazer com que nos identifiquemos emocionalmente com as personagens e, de alguma forma, com as suas histórias. O enredo não se coíbe de representar questões da vida real, seja um casamento em crise, problemas de saúde mental, adoção, racismo ou a luta para encontrar um propósito. Tudo isto com uma certa naturalidade que não estamos habituados a ver.
As minhas personagens favoritas? William (pai biológico de Randall) conquistou a simpatia do meu lado boémio, ao mesmo tempo que demonstra uma profunda sabedoria e sensatez. Se todos tivéssemos uma vozinha de William a segredar ao ouvido, certamente encararíamos melhor a vida. Beth também me conquistou pelo seu pragmatismo e pelo companheirismo e maturidade com que lida com os dramas e entusiasmos de Randall. Já Jack transmite-me uma certa perfeição forçada, provavelmente fruto do saudosismo em que a sua personagem é constantemente envolta.
No entanto – unpopular opinion -, apesar de lhe reconhecer bastantes qualidades, a série não me conquistou além da segunda temporada. Provavelmente um dos efeitos do seu sucesso, na minha opinião, prolongou-se demasiado, além de explorar os anacronismos até ao cansaço.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico.