Voltar a Começar

O primeiro filme espanhol a vencer o óscar de melhor filme (1982) está longe de ser genial, mas lança um olhar nostálgico sobre o passado e as escolhas que fazemos, questionando aquilo a que chamamos sucesso.

Antonio Albajara (Antonio Ferrandis, da série Verão Azul), de regresso a São Francisco, onde reside e ensina Literatura em Berkeley, para em Gijon, terra natal, para relembrar, confrontar e apaziguar o jovem que décadas atrás havia saído da cidade asturiana. Vem de Estocolmo, onde acabou de receber o Nobel da Literatura.

Quando somos jovens todos pensamos que as pessoas mais velhas… não se amam. Eu também acreditava nisto. Pensava que as pessoas, como as que agora somos nós, sentiam carinho, afecto… mas não que se amavam, que sentiriam paixão. E não é verdade: os homens e as mulheres… são capazes de amar até ao último momento da vida. Na realidade, só se envelhece quando não se ama.

Não recordo o que me levou a procurar este filme, mas lembro-me que foi dos que mais custou a sacar: levou dias, tão poucos eram os internautas a partilhar a película de José Luis Garci.

Duas obras acompanham a história – Begin to Beguine, de Cole Porter, que lhe confere o título; e Canon, de Pachelbel – reforçando o bom e o mau que este filme tem: o saudosismo, um pouco “gratuito-sentimentalóide”, para uns; um retrato sentido e profundo de uma vida que poderia ter sido, para outros. É entre estes dois pólos que oscilo sempre que recordo Volver a Empezar.

Um tema recorrente: até que ponto fugimos com a vida por uma via alternativa que não aquela por onde passa o que é realmente importante para nós? O que sentimos, o modo como sentimos, e o modo como transmitimos o que sentimos pintam o quadro em que se vai transformando a nossa vida. E esta, como Albajara diz a Elena, não escolhe idades para a felicidade.

Há nove anos escrevi que “Volver a Empezar é daqueles filmes dos quais, provavelmente, nunca falarei com ninguém. Poderei mencioná-lo, mas dificilmente terei com alguém uma conversa sobre ele. Ninguém vê este filme (…)”. Quatro ou cinco anos depois o filme foi um dos muitos que se intrometeu nas tertúlias apressadas que tinha com o Javier após as aulas de Espanhol; seguramente que não foi o mais importante, mas constituiu mais uma demonstração de que os “nuncas” só têm propriedade quando aplicados ao passado.

… mas sempre digo, e é verdade, que gosto mais da primeira parte da minha vida. Sabes porquê? Porque nela estavas tu.

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