Este era para ser um texto, puro e duro, sobre razões para assistir a “Mad Men”. Contudo, entre a maturação de ideias, o raciocínio descobriu novos caminhos. E, num desses trilhos que a mente abriu, apercebi-me de que “Mad Men” é mais do que entretenimento: depois de 92 episódios, ficam reflexões profundas e ensinamentos que não passam de moda. Galardoado com 16 Emmys e cinco Globos de Ouro, tornou-se numa série de culto que beneficiou duplamente de um dos elementos que nos move – a emoção. Neste caso, a emoção presente na vida e no mundo publicitário.
Fumo de tabaco e copos de álcool. Figurinos incríveis. Copos de álcool e fumo de tabaco. Figurinos incríveis. A sucessão de imagens em “Mad Men” segue, mais ou menos, esta sequência. A trama passa-se numa agência de publicidade dos anos 60. São os tempos de um machismo exacerbado, acompanhado do louvor à nicotina.
Todavia, em sete temporadas, há oportunidade para se descobrir que o tabaco, afinal de contas, prejudica a saúde. Por outro lado, algumas mulheres começam a aperceber-se de que podem desempenhar mais do que uma posição de embelezamento do espaço. E lutam para ocupar lugares antes exclusivos a homens.
Assistir a este desenvolvimento é uma experiência fascinante. Ao mesmo tempo que recebemos uma lição de história, importamo-nos com as personagens. Queremos que singrem e estamos atentos a todos os movimentos. É importante que nada falhe. O sucesso pode estar ali ao lado. Mas a que custo? Será que há que adoptar um comportamento mais masculino? Ou bastará uma atitude de confiança?
À semelhança da vida, ao longo da estória, cruzam-se indivíduos que julgamos conhecer, mas dos quais nada sabemos. Ou melhor, vamos sabendo aos poucos. Como afirma a personagem Donald Draper, “quando um homem entra numa sala, traz com ele toda a sua vida”, uma vida repleta de experiências que desconhecemos.
Passamos os dias a avaliar carácteres, a julgar personalidades, a interpretar estados de alma, sem todos os detalhes em nossa posse. Onde está a justiça destas ilações?
“Mad Men” levanta questões assim, numa jornada pela (falta de) moral duma indústria que move milhões. E tudo isto acontece na companhia de boa música. Sem esquecer, claro, fumo de tabaco e copos de álcool. Ah, e figurinos incríveis!