Não seria o primeiro caso de descendência ilegítima numa família real europeia, ainda que por via feminina. A ser verdade, é mais um escândalo a juntar-se a outros que assolam a Família Real Britânica. De acordo com a historiadora de Arte e autora do livro intitulado The Mystery of Princess Louise, Lucinda Hawksley, a princesa que dá o título a esta obra e filha da Rainha Vitória, teria tido um filho nos finais da adolescência, aos 18 anos, de um homem chamado Walter Stirling. Embora sem provas cabais, a autora considera existirem evidências mais do que circunstanciais que permitem fazer tal afirmação. A criança terá nascido por volta de 1866 e 1867, numa época em que não havia certidões de nascimento, tendo sido adoptada muito rapidamente pelo filho do ginecologista da Rainha Vitória. Nos anos mais recentes, os seus descendentes terão procurado obter uma amostra de ADN, que lhes permitisse assegurar a familiaridade com a Família Real Britânica, com quem partilha, pelo menos, alguns traços físicos e semelhanças. Terão pedido permissão para retirar uma amostra de ADN do caixão do suposto filho de Louise e de uma sobrinha da princesa, a Czarina Alexandra da Rússia. Todavia, a permissão foi recusada pelo tribunal eclesiástico da Igreja de Inglaterra.
Princesa Louise (1848–1939) foi a sexta dos 9 filhos da Rainha Vitória, a quarta das raparigas. A Rainha nunca fez segredo que os seus filhos a desapontaram. Como bebés, aborreciam-na e revoltavam-na e, em crianças, eram vestidos como bonecas para lhe serem apresentados diversas vezes ao dia. Quando Louise nasceu, Vitória teria já perdido qualquer interesse em crianças, tendo sido por esta ignorada. A criança, naturalmente, terá procurado sempre chamar a sua atenção, nem sempre da melhor maneira, Nos seus diários, a Rainha refere-se a esta filha como “difícil”, “impertinente” e “rebelde”.
De todas as filhas da Rainha de Inglaterra e Imperatriz das Índia, era considerada a mais bonita, independente e notável. Ao longo da sua vida, várias facetas foram-se revelando. Aprendeu a cozinhar muito nova, na casa de campo em Osborne House, na Ilha de Wight, para onde foi viver logo após a morte do pai, o Príncipe Alberto, em 1861. Essa seria uma aptidão que terá conservado para o resto da sua vida. Tecia, era fumadora, gostava de andar de bicicleta e o seu grupo de amigos era composto de artistas como o poeta e pintor Rossetti, os pintores Millais, Whistler e a escritora George Eliot. Foi também ela uma talentosa artista, nomeadamente escultora, cuja obra mais famosa é a estátua da sua mãe, que se encontra nos jardins de Kensington Palace, erguida para comemorar o Jubileu de Ouro da Rainha. Tal como a sua irmã mais velha, a Imperatriz Vitória da Alemanha, foi uma defensora do direito feminino ao voto, mantendo-se em contacto com as activistas dos direitos femininos Josephine Butler e Elizabeth Garrett.

Ao contrário dos irmãos, que casaram com membros de Casas Reais europeias, casou, em 1871, com John Campbell, Marquês de Lorne, mais tarde 9º Duque de Argyll. Foi um casamento arranjado, do qual não houve descendência. Sabe-se que o Marquês era homossexual e que Louise teria tido alguns romances. Estas poderão ser algumas das razões que os Arquivos Reais de Windsor negam o acesso a qualquer documentação relativa à Princesa, bem como os Arquivos dos Duques de Argyll, situados no Castelo de Inverary. Além disso, muita da correspondência remetida pela Princesa terá sido absorvida pelos Arquivos Reais.

De acordo com Lucinda Hawksley, o tenente Walter Stirling era um oficial de cavalaria, de origem aristocrática, que trabalhou num curto espaço de tempo como tutor do irmão mais novo de Louise, o Príncipe Leopoldo, que sofria de hemofilia. Efectivamente, em 1866, Walter George Stirling entrou ao serviço da Casa Real. Não esquecer que o marido da Rainha, o Príncipe Alberto, tinha morrido recentemente e que Walter Stirling surgisse como uma figura paternal ao seu educando. Esta proximidade à Família Real, com quem certamente partilharia muitas das refeições, saídas quotidianas e até festas, teria favorecido o clima de romance entre si e a Princesa Louise, que passaria muito tempo com o irmão e, inevitavelmente, o seu tutor. Teria sido durante esse período que o filho de ambos teria sido concebido e dado à luz num dos anos mencionados. Após a sua adopção, a criança recebeu o nome de Henri Locock.
Todavia, apenas quatro meses depois de ter sido nomeado tutor da Casa Real ao serviço do Príncipe Leopoldo, Walter foi despedido. A versão oficial foi a de que a Rainha pretendia para seu serviço alguém mais experiente na educação de crianças doentes. Todavia, a verdade é que quem substituiu o oficial, foi alguém conhecido pela sua brutalidade. A autora defende que a Rainha teria descoberto a gravidez da filha e quem seria o pai. Dois dos conselheiros da Rainha, conhecedores das grandes qualidades de Stirling, teriam sugerido que em vez de tutor do Príncipe, se tornasse o responsável pela preparação de outro dos Príncipes, Arthur, para a Armada. No entanto, embora fosse ideal para o trabalho, a Rainha recusou.
Certo é que durante o resto do ano a Princesa raras vezes foi vista em público e o vestuário da época pôde dissimular a gravidez nas ocasiões em que apareceu, não só espartilhos especiais para gestantes, que tornavam a cintura mais fina quanto possível, mas outros adereços, como folhos, plissados, estofados, laços, fitas e xailes, de que há testemunhos.
Além disso, a Rainha teria apontado no seu diário, em 1866, que a princesa não teria qualquer dama, ou criada que a ajudasse a vestir. Deste modo, ninguém poderia confirmar a possível gravidez da princesa. Todavia, seria mais natural que a Princesa, caso estivesse grávida, tivesse sido afastada dos olhares perspicazes e das bocas intriguistas da Corte, tal como terá acontecido com a Princesa dinamarquesa Thyra, irmã da futura Rainha Alexandra, que, para esconder uma eventual gravidez ilegítima, teria sido enviada em viagem para recuperar de uma doença misteriosa.
(continua)