Desde que me conheço por gente que adoro histórias: ouvir histórias, contar histórias. As minhas favoritas são as que contêm realidade, sonho e um final feliz.
Em pequena, na casa dos meus avós, passava horas a folhear um livro sobre a vida nos oceanos, sendo o capítulo dedicado aos cetáceos o meu favorito. Sonhava com o dia em que teria a oportunidade de ver os simpáticos embaixadores dos oceanos ao vivo e a cores. Um dos temas de conversa com o meu avô consistia em papaguear a informação que considerava mais interessante e ouvir as histórias de golfinhos que em tempos idos nadavam no Tejo, mas a poluição resultante das atividades humanas afastara os simpáticos mamíferos aquáticos.
Segundo os Velhos do Restelo, a poluição gerada pelas fábricas, pelas cidades e pelo tráfego marítimo contribuiu para a degradação do ecossistema e a diminuição de alimento tornando impossível o regresso dos golfinhos ao estuário do Tejo.
Que argumento possui uma criança contra factos documentados por adultos? A capacidade de continuar a sonhar e guardar num cantinho recôndito do coração a esperança de um dia testemunhar que os pessimistas também se enganam.
O engraçado dos sonhos é que reaparecem quando precisamos de resgatar a esperança. No tempo que passei na faculdade questionei-me muitas vezes sobre o meu futuro profissional. Para me distrair desses pensamentos substituí o folhear do livro dos oceanos por uma palestra sobre a população de golfinhos no Sado.
Aprendi que são uma “espécie guarda-chuva”: estes cetáceos são os embaixadores de campanhas para a implementação de medidas de conservação do seu habitat beneficiando outras espécies que também lá moram. Questionei sobre a probabilidade destes mamíferos aquáticos voltarem a visitar as águas que banham Lisboa. De acordo com os especialistas a probabilidade era pequena, mesmo com a implementação de medidas de combate à poluição, como por exemplo, a construção de estações de tratamento de águas residuais.
Naquele momento senti que dobrar o Cabo das Tormentas associado à poluição era possível, mas muito difícil, tendo em consideração as questões associadas às dragagens, que podem ter como consequência a ressuspensão de metais pesados que afetam a qualidade da água; e a poluição sonora associada ao tráfego marítimo no estuário que influencia o sistema auditivo dos cetáceos, um dos seus mecanismos sensoriais mais importantes.
O tempo passou e pelo que se conjuntura ser o resultado da diminuição da poluição no estuário do Tejo e a disponibilidade de alimento proporcionou o regresso dos golfinhos ao Tejo na época de pandemia – uma época em que o mundo precisava de um sinal de esperança.
O regresso destes embaixadores da boa esperança está envolto em mistério – apesar do retornado da normalidade as suas visitas continuam regulares. A comunidade científica com a colaboração de empresas e associações estão a recolher dados e analisá-los com o intuito de delinear estratégias de preservação do ecossistema do estuário do Tejo.
Quanto a mim tornei um sonho de menina realidade: num passeio de barco pelo estuário do Tejo observei um grupo de golfinhos que incluía uma cria.