A base da sociedade é a família. Frase batida e ouvida em todos os recantos. É quase uma máxima a ser seguida. É nela, a dita família, que se encontra o poiso, o abrigo e a concha de entendimento que se deseja. Família significa progenitores e descendentes e ainda os que a engrandecem.
Durante anos, a família era convencional. Um pai, uma mãe e filhos que, uns anos mais tarde originariam rebentos que se multiplicariam. Tão simples como a o fluir do tempo e o ritmo da natureza. Contudo todos estes conceitos acarretam noções que se vão perdendo com o tempo, com a mudança de mentalidades, com a alteração dos costumes e a introdução de novos valores.
Ser mãe já não é o objectivo da mulher. Ser mãe pode ser uma das metas que são estabelecidas, mas não é o percurso final. Felizmente a mulher está a libertar-se do estigma de procriadora e tem entrado no mundo do trabalho sendo que este a alicia de modo contínuo. A mulher pode conjugar os papéis que desempenha em simultâneo.
Os afectos são sempre o entrave para as resoluções. Quando se faz o plano há que contar com as variantes e os sentimentos e as emoções, além de tudo complicarem, são novas formas de direccionar a vida. Família é onde reside o amor, onde o porto seguro está sempre disponível e onde o calor humano é tão forte que cria um íman poderoso e não quer deixar partir.
A família convencional tende a desaparecer dando lugar a novas famílias que se entrosam e criam laços poderosos. Uma nova circunstância tem crescido exponencialmente: as novas famílias, os meus, os teus e os nossos. Famílias que se refazem e que encontram o conforto que não encontraram na anterior relação. A tentativa de ser feliz, palavra tão estranha como peculiar, leva a que tudo se aventure para que a tranquilidade seja atingida.
Os filhos, esses seres errantes, os novos ciganos da modernidade, adaptam-se a todas as situações, conhecem novos modos de estar, experimentam novas sensações, partilham espaços e vivências. São os novos irmãos, que ganham uma marca profunda no mundo de hoje. O laço de sangue torna-se irrelevante e os afectos são conquistados e sentidos.
Quando há vontade de formar um lar, de criar uma rede de protecção e de segurança, a criança está bem encaminhada. O que as crianças precisam é de atenção, educação, amor incondicional. São seres pequeninos que funcionam como esponjas, absorvendo tudo o que as rodeia. Ter um pai ou uma mãe, duas mães ou dois pais é absolutamente indiferente. O importante é a capacidade de estar com ela, de a orientar, de lhe dar tudo aquilo que ela necessita, que se resume a amor.
Se a casa é onde nos sentimos bem, onde está o nosso porto seguro, a família é quem nos acolhe no seu coração, quem nos ouve, quem nos ralha quando é preciso, quem nos orienta, quem nos ama verdadeiramente, com o coração e com a alma inteira. Família é tão importante como respirar sem limitações e sentir que o amor, o que cobre os seus, é a capa mágica que tudo resolve.
Nos tempos mais recentes, a proximidade ficou maior para uns e mais larga para outros. Os familiares de convívio diário descobriram ou redescobriram os seus e criaram outro tipo de laços, talvez até mais verdadeiros e sólidos. O confinamento levou a que a casa fosse igualmente o escritório e a vida de fora de casa passasse para o interior. Escola e escritórios conjugados no mesmo espaço não terá sido uma tarefa simples, mas o resultado saldou-se positivo.
É na família que se busca o conforto, o refúgio, quando a tempestade assola a costa, é com a família que se resolvem as contendas e se tomam as soluções que melhor servem a todos, é para a família que regressam os que não encontraram o que procuravam. A família é a bóia de salvação, a tenda que cobre e protege, a capa que aquece e conforta. É com ela que se fecham as feridas que a vida deixou abertas.
A família passou a ter um estatuto especial, uma espécie de instituição que é respeitada e ansiada por muitos. Por isso novas famílias se criam e inventam laços poderosos e fortes. As novas famílias, as recompostas e as clássicas, são todas as bases, os pilares hercúleos que suportam o peso de tudo. Criam pilastras onde as colunas assentam e repousam com a tranquilidade que se pretende. Família é onde se respira e encosta a cabeça com toda a segurança.
Por isso os velhos, os que semearam esta ligação, não podem ser esquecidos nem abandonados. Eles tudo fizeram para que a luz do seu sangue tivesse continuidade e a vida dos descendentes fosse mais leve. São os anciãos que deram o nome e que merecem que o mesmo seja preservado. Eles foram os pioneiros.
Família, uma palavra tão grávida de significados como de dores e onde a calma se esconde e desafia. Família não é apenas ou só o sangue, família é a forma mais pura e bela de amor.