As religiões são caminhos diferentes a convergir para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?
– Mahatma Gandhi
Esta observação de Mahatma Gandhi continua a fazer todo o sentido ainda nos dias de hoje, apesar de cada vez mais sermos verdadeiros autómatos e quase automáticos na nossa conduta face à vida, quer seja profissional, pessoal ou em sociedade, somos o fruto do que deixamos que a sociedade faça de nós.
A sensação que passa muitas vezes é a de que somos máquinas que se disfarçam de humanos, temos que ser perfeitos em tudo o que fazemos, e apenas o céu pode ser o limite.
A questão da religião é, no entanto, algo que nos diferencia dos outros seres, não racionais, sobre a terra, que se conheçam não existem religiões que não sejam as que possuímos nós, seres humanos.
No fundo, o que nos distingue dos outros seres não racionais é justamente a questão da moral, termos a perceção do certo e do errado, do que é próprio ou impróprio, havendo mesmo lugar à diferenciação de intenções dos atos que se praticam, enquanto os animais ditos irracionais agem por instinto, e reagem na defesa pura e simples da sua luta pela sobrevivência.
São estas regras que os seres humanos tem, associadas à chamada moral e até mesmo aos costumes que nos regem, que de algum modo nos encaminham para a religião. São fios condutores, linhas orientadoras para encontrar o melhor percurso que alcance a nossa felicidade, ou até mesmo para a nossa realização enquanto pessoas.
E por religião entende-se um conjunto de sistemas culturais e de crenças, que permitem diferentes visões do mundo, que se estabelecem por via dos símbolos que ligam a humanidade com a espiritualidade e com os seus próprios valores morais.
A religião é muitas vezes usada como sinónimo de fé ou mesmo um sistema de crença, mas esta difere da crença pessoal, na medida em que tem uma vertente pública, a religião está associada às massas, são grupos que acreditam e veneram o mesmo Deus.
Pode a religião ser uma forma de aliviar o sofrimento e os maus momentos da nossa vida? Acredito que sim, e por essa mesma razão também acredito que continua a fazer sentido que em pleno século XXI, num mundo ligado em rede, a religião continue a ser um alicerce fundamental da vida em sociedade.
Todos sabemos que determinadas crenças e/ou práticas religiosas, são fundamentais no condicionamento das ações morais de cada um, que posteriormente se desencadeiam e manifestam nos comportamentos em sociedade e consequentemente modelam atitudes e suportam posturas e opiniões.
Existem variadíssimos exemplos de crenças religiosas, que inspiram as suas comunidades a consumar atos de profunda caridade, e com um elevado sentido altruísta.
Bem sabemos que a religião sempre foi vista como algo clássico, rústico e inalterado, predestinada às inúmeras páginas de seus livros sagrados, e nos tempos da era digital não faria sentido continuar a promover este tipo de crenças.
Apesar de tudo, nos meios religiosos, as pessoas estão cada vez mais ligadas entre si, por via electrónica e tecnológica, fazendo com que a fé e consequentemente a religião acompanhe naturalmente essa evolução do estilo de vida das pessoas.
A aproximação da religião às novas tecnologias amplia a forma como as pessoas acedem, ensinam ou até compartilham a sua fé. Ou seja, apesar dos recursos poderem ser outros, até mais digitais e com mais meios eletrónicos, o elo que liga as pessoas de cada uma das religiões é sempre o mesmo, a crença que tem no seu Deus.
Sabemos bem que um dos pontos mais críticos do ataque a qualquer cultura é a sua experiência religiosa, caso se destrua ou consiga minar as instituições religiosas de uma determinada sociedade, a estrutura da comunidade pode rapidamente ser anarquizada e levada à destruição.
Entendo ainda, que a relevância de ser defensor ou não de uma determinada religião, passa por perceber que este é um direito que todos têm e que os assiste, sem, contudo, nunca esquecer que este seu direito, não pode de forma nenhuma, em qualquer momento, colidir com os direitos e garantias de quem não acredita nesse Deus, ou crê noutro qualquer Deus distinto do seu.
E apesar de toda a tecnologia e desenvolvimento que temos vindo a testemunhar nos últimos tempos, a religião tem vindo a manter-se e até a aumentar por vezes o seu número de crentes.
São oito as principais religiões que se conhecem, com muito milhões de seguidores por todo o mundo, apesar de nos últimos cem anos, a religião ter sido alvo de ataques implacáveis, chegando mesmo a ser apelidada de “ópio do povo”, que não é científica, que é primitiva, em suma, que é uma ilusão…
No entanto, por detrás de todos estes ataques contra a religião organizada, o alvo que se procura atingir, e até minar é a espiritualidade do Homem.
E a espiritualidade do ser é a sua própria natureza espiritual básica, o respeito próprio e a paz de espírito que cada um procura, e promove do modo que melhor entender.
Não posso acreditar que exista alguém, que num momento ou outro da sua vida, ao olhar um céu estrelado durante a noite, ao apreciar a beleza de uma flor ou até mesmo a pensar apenas em si e na sua vida, não se tenha questionado sobre a razão de ser de tudo no mundo, e até mesmo da sua própria existência.
Naturalmente estas questões colocam-se ao ser humano desde tempos imemoriais, ganhamos novos recursos, novos meios e tudo se prolifera mais rapidamente, mas o ser humano continua em busca da sua espiritualidade e de encontrar um sentido para a sua existência, e esse pode ser encontrado por via da religião.
É pois natural, que ambicionemos perceber o que é o universo e qual o papel que nele está reservado para nós, a religião é mais um dos percursos que podemos usar para melhor nos conhecermos, e melhor perceber a nossa missão no planeta terra. Faço minhas as palavras de Dalai Lama:
Esta é minha simples religião.
Não há necessidade de templos;
Não há necessidade de filosofia complicada.
Nosso próprio cérebro, nosso próprio coração, é nosso templo –
A filosofia é a bondade.