No passado dia 1 de março, completei 36 anos. 36! Eu sei, para quem tem 46 ou 56, ainda sou uma jovem adulta na flor da idade, porém, para quem tem 6, já sou um dinossauro prestes a entrar em vias de extinção. Portanto, o que seria da vida sem este maravilhoso equilíbrio?
No entanto, nunca soube dizer se me sentia ou não com a idade certa. Vistas bem as coisas, passámos por cada ano uma só vez, como tal, ignoro por completo aquilo que deveria ou não fazer, ou o que esperam de mim.
O cabelo comprido ainda me fica bem? Será que devo continuar a usar sapatilhas e calças rasgadas? Aquele sapatinho, tipo mocassins, fará, alguma vez parte do meu vestuário? Ah! Já devia ter estatuto para usar uns pullovers com camisas por baixo…
Podia ter todas estas crises existenciais, podia. Porém, não as tenho.
Quando visualizo aqueles miúdos na casa dos 20 anos a terminar a faculdade, em oposição a uma pessoa de 40 anos, eu situo-me sempre do lado dos miúdos e por uma razão muito simples: pessoas de 40 anos são os meus pais, ou melhor, as memórias que tenho deles, ou a minha avó, quando já usava lenço na cabeça e saia pelo joelho. Não eu. Nunca eu, nesta realidade que me empurra para esse patamar que, ainda há poucos anos, me parecia tão longínqua. Como assim, já não sou uma miúda? Como assim, já vivi quase metade da minha vida?
E não, não é medo de envelhecer, é a necessidade de compreender para onde foram todos os anos que já passaram.
Ainda assim, enquanto penso no que fiz da vida e em que pessoa me tornei, e vagueio pelos pensamentos sobre a minha existência, não existe maior descida à terra do que sentir a responsabilidade de ser mãe.
Durante o período em que a minha filha foi bebé e até aos seus 2,5 anos, encontrava-me numa espécie de espiral ligada em piloto automático. Tinha que alimentá-la, vesti-la, dar-lhe banho, cuidar dela. Não dormir mais do que 3 horas seguidas, trabalhar e tentar concluir projetos pessoais. Conheci, de uma forma completamente arrebatadora e nova, o que era o amor, melhor dizendo, redescobri o sentido dessa palavra. Enchi-me de um orgulho incomensurável cada vez que ela aprendia algo novo, e ia amadurecendo a paciência, a resiliência, a compreensão… No entanto, senti-me sempre a Susana enquanto pessoa individual e, não só como mãe.
Porém, num abrir e fechar de olhos, este maroto do tempo prega-me mais uma partida, e, de repente, ela já argumenta comigo, dá-me resposta tortas, inicia uma conversa que compreende e que consegue articular. Gesticula. Desafia-me.
A minha pequenina já não é assim tão pequena e com 3 anos imita tudo o que faço. Se algum dia pensei que ela seria uma esponja do meio que a envolve, nunca poderia estar preparada para que essa esponja passasse a ter atitudes iguais às minhas.
A minha pequenina já conhece o conceito de família, de mãe e de pai. Do que é o amor. Do que é a amizade. Já sabe o que é sentir saudades de alguém. Já sabe pedir-me uma massagem quando lhe dói a barriga.
A minha pequenina já usa óculos, já substituiu as fraldas pelas cuecas. Já tem o seu chapéu de chuva, já desce as escadas sozinha, já chuta a bola e grita golo, e sopra na sopa de brincar antes de a dar ao seu bebé.
A minha pequenina já sabe que os cães não falam, mas que se expressam a ladrar, ou que a cozinha dela é de brincar porque a mãe é que faz a comida a sério.
A minha pequenina cresceu e eu cresci com ela. Nunca antes, em altura alguma, me senti tão mãe como agora. Porque agora, aquela criança sentada à mesa a contestar que não gosta da comida e que não quer comer mais, sou eu, e do outro lado está a minha mãe, sendo mãe a insistir para que coma.
No fim, só percebemos, de facto, o que é ser mãe quando nos refletimos na nossa, certo?