É surpreendente como uma mulher muda depois de ser mãe. Afinal de contas, deixamos de ser EU para passarmos a ser Nós.
As mudanças físicas são visíveis, mas as psicológicas ganham uma força jamais vista.
Por uma fracção de segundos, podemos deixar que o medo nos habite, mas aquela vida que cresce em nós enche-nos de coragem de embarcar na viagem.
Após o primeiro teste caseiro, vem a escolha do profissional, que vai confirmar o que na verdade já sabemos, mas que tememos que seja ou não real. Ouve-se o primeiro bater de coração, tomam-se decisões e receitam-nos a medicação imprescindível para evitar doenças indesejadas.
E vem o primeiro mal-estar. Para umas, um ligeiro enjoo, para outras, o início do debruçar constante de um estômago revolucionário.
E chegam as amadas 12 semanas. E solta-se um respiro de alívio e contamos a novidade a quem ainda não sabia. Com o primeiro trimestre ultrapassado, reduzem-se os desassossegos, pensam-se em nomes (se ainda não tinham sido decididos), alternativas e mudanças de estilos de vida.
As lentes do mundo transformam-se, um sorriso é solto a cada bebé. Imaginamos, criamos, compramos roupas, surgem as listas do enxoval. Sentimo-nos mais animadas, cansadas, entusiasmadas, stressadas, indecisas.
As mães que nunca foram, procuram informação, aulas de preparação. Tudo é novo, tudo é estranho, tudo é novidade, tudo faz parte do sonho. As outras, as mães já há algum tempo, sentem-se exaustas. Uma gravidez raramente é igual à outra. O risco de perder a paciência com os mais velhos é maior e o descanso é um luxo que muitas não podem usufruir.
Os dias atropelam-se. E o tempo vai passando, algumas com sintomas semelhantes aos das doenças, outras sem sintomas nenhuns. Nova ecografia. Descobre-se se é menino ou menina. E a criança tem nome, ou ainda não foi decidido… mas sabemos que já faz parte de nós.
E dói o peito e doem as costas ou não dói nada. Mais exames: a saúde da mãe e a do bebé é o mais importante. Recebem-se as críticas, os comentários e conselhos que nos seguem todos os dias. E chega a lufada de ar fresco, quando os profissionais confirmam que está tudo bem. E vem a fase da engorda (se é que já não engordamos muito mais do que devíamos). E a barriga pesa, mexe-se, sente-se um pontapé.
E o espaço para o bebé é pensado, caso ainda não tenha sido preparado ou dá tempo. Só podemos dormir deitadas para o lado, mas eu só gostava de dormir de barriga para cima. A cada mexida diária a felicidade nos acolhe, nos abraça ou percebemos que tudo é real e sentimos sobrecarregadas.
Vem a última ecografia com a certeza, que às vezes é incerta, de que tudo vai dar certo. Talvez façamos uma festa. Custa a andar e a bexiga prepara-nos para as noites mal dormidas.
A tranquilidade chega, mas dura pouco, pois lá vem o dia temido por umas, ansiado por outras. Nasce a criança, nasce uma mãe.
A afinidade imediata é sentida por algumas, outras nem tanto. Há quem consiga logo amamentar, há quem chore por não conseguir e há ainda quem não queira. Importante é que cada mulher tem o seu tempo e o seu livre arbítrio. Damo-nos de conta que somos mais corajosas do que pensávamos, guerreiras de lutas mentais.
É tudo como imaginámos e não é nada como sonhámos, mas, mesmo assim, seguimos os dias com a certeza que novos desafios virão. No fim de contas, em cada colo, está aninhada uma criança gerada no coração e a gestação é só o começo.