Estás online?

Quando era miúda e me perguntavam o que queria ser, quando crescesse, a minha resposta saltitava ali entre professora, actriz, e até mesmo astronauta, eram as respostas óbvias de quem tem 8 anos e um mundo pela frente.

A semana passada, numa das viagens casa/escola ou escola/casa, o meu filho (8 anos fresquinhos) faz questão de me informar:

– Mãe, quando crescer quero ser Youtuber!

Ora, até me considero uma pessoa “in” nisto das redes sociais e tecnologias, mas, sinceramente, não vejo assim de repente qual o fascínio em ser Youtuber. A pergunta seguinte foi:

– A sério filho? Mas porquê Youtuber?

– Oh mãe, então, para poder jogar ao mesmo tempo que trabalho e, claro, para ter muitas subscrições no canal!

Muitas subscrições no canal, muitos likes no Facebook, mil seguidores no Instagram. Será que a felicidade dos nossos miúdos deve passar pelo número de likes que têm numa publicação? Um estudo inglês, publicado no The Guardian diz que, para crianças entre os 10 e os 12 anos, isso é mesmo uma realidade.
Estar online é o equivalente “do nosso tempo” ao ter as últimas sapatilhas da moda, ou aquela geringonça de saltar cor de rosa que tanto pedi aos meus pais, quando andava no terceiro ano. E porquê? Toda a gente tinha e eu queria ser toda a gente. O estar numa qualquer rede social é ser alguém. Mesmo que seja um alguém de 8 anos.

Imaginemos as redes sociais como aquelas tirinhas amarelas de apanhar moscas: um engodo irresistível, que nos cola de tal forma que se torna impossível largar. E se isto acontece com adultos, com crianças será ainda mais fácil. É na Internet que vemos o que está “na moda”, o que não está, o que é “fixe” gostar, o que não é. É a Internet que dita o futuro e que conta o passado. E, se a atriz da moda bebé o sumo X na tal esplanada Y, tu também vais querer.

A Internet, na generalidade, apresenta-se como uma fonte praticamente inesgotável de informação e as redes sociais potenciam a partilha de toda esta informação de forma quase instantânea, literalmente na palma da mão.

Quantos garotos com menos de 10 anos conhecemos que têm telemóvel? Vamos tomar um café ao parque da cidade e são mais aqueles a fazer scroll no “Insta” que a fazer slide no escorrega. Na sociedade actual, considera-se já que, partir dos 10/11 anos, é perfeitamente normal e aceitável oferecer um telemóvel a uma criança: para estar contactável em caso de emergência, para poder falar com os pais. O pior é mesmo quando esse telemóvel está ligado e na mão muitas horas por dia: no intervalo da escola, no recreio, à saída. Será tempo demais?

Como mãe isto preocupa-me, enquanto pais devemos estar atentos até ao mínimo detalhe: desde o “amigo” companheiro do jogo online à (des)notícia partilhada por 5/6 (mil) no feed do Facebook. Por muito informados que os miúdos possam estar, por muito cientes dos perigos, a supervisão nunca será demasiada.

Avançando uns aninhos e parando ali na adolescência, a teia influenciadora das redes sociais ainda se torna mais pegajosa. A adolescência por si só já é uma fase muito e, vá lá, parva. É tão difícil deixar para trás a infância e abrir os braços à idade adulta, sempre foi e sempre o será. Tudo muda, nós mudamos, o corpo muda. Os “dramas” monumentais desta fase que, no meu tempo (tchiii sua cota), eram escrevinhados num diário com cheirinho a morango e um pequeno cadeado que se abria com a mola do cabelo, quando não encontrávamos a chave, agora vão parar, acompanhados da respectiva foto, ao Instagram ou ao Facebook. E os miúdos ficam ali, suspensos, a olhar para um ecrã à espera das reacções dos amigos, dos seguidores. Enquanto isso, olham para os outros: seguem o que vestem, o que comem, querem ser como eles são, aceitam desafios, imitam atitudes, gostos e valores. Quando os likes chegam (ou não), a auto-estima ondula por ali: mais de 10 ou menos de 5 gostam de mim/não gostam de mim, gostam daquele/a, quero ser como ele/a que tem 5000 likes!

O nosso crescimento passa exactamente pela mímica daquilo que nos rodeia, como tal, cabe-nos a nós, pais, analisar os exemplos que os nossos pequenos seguem.

Talvez cortar completamente os acessos a estas ferramentas (que até se revelam de bastante utilidade, quando utilizadas correctamente) não seja a melhor solução, mas vamos ensinar os miúdos a usa-las da melhor forma: com conta, peso e medida.

E vamos fazer um pacto?

Eu mãe/pai prometo:

  • Controlar o tempo que os meus garotos passam agarrados a um mundo virtual, seja ele o computador, a consola, o tablet ou o telemóvel;
  • Estar atenta/o aos amigos “virtuais” da mesma forma que os “reais”;
  • Procurar indícios de ciberbullying;
  • Não ignorar as horas que eles estão tão caladinhos no quarto;
  • Preferir que usem a NET ao pé de mim, mesmo que o som daquele vídeo seja muuuitoo irritante;
  • Passar mais tempo de qualidade com os meus filhos: ir ao parque e desligar os telemóveis, jogar Monopólio e desligar a NET, jogar futebol com 10 amigos reais, não virtuais;
  • Eu mãe/pai prometo ficar OFFLINE com eles o máximo de vezes que conseguir.

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