A noite estava fria e a chuva caia forte lá fora. Já não era cedo, já passava da meia-noite. Quando entrámos no bar, o ar estava quente, as luzes amarelas e vermelhas misturavam-se na penumbra e a música estava alta e soava forte.
Fiquei contente, porque encharcada como estava e com a minha forte tendência para tropeçar, foi uma sorte não ter caído por ali, quando senti o chão peganhento nas botas. Mas juro que se escorregasse acho que ninguém daria por isso. As emoções estavam ao rubro e na zona de dança, as pessoas envolviam-se e seduziam. Observei e mais uma vez pensei, o que leva as pessoas a sentirem-se atraídas umas pelas outras?
Sabemos que somos complexos. Temos padrões, inibições, auto-controlo e a nossa própria história. Apelidámo-nos de animais racionais. No entanto, não existirá na nossa bioquímica algo muito mais irracional, que nos deixa fora de controlo no que respeita aos nossos potenciais parceiros? Existe. Apresento-vos as substâncias químicas que têm suscitado controvérsia entre os cientistas sobre a sua existência nos seres humanos e o seu verdadeiro papel no nosso corpo: as feromonas.
Do grego “pheron” (transferir) e “hormon” (excitar), as feromonas são compostos químicos que funcionam como mensageiros e comunicam naturalmente com seres da mesma espécie, provocando alterações no comportamento do seu receptor. Estão presentes em muitas espécies de insectos e nos mamíferos, tendo muitas funções, como por exemplo a demarcação de território.
Aparentemente, nos seres humanos, são exaladas pela pele através da transpiração e quanto melhor o nosso estado de saúde mais são produzidas, sendo que cada um de nós é único ao exalarmos e sentirmos as feromonas.
Porém, a verdadeira questão é que estas marotas, quando vão por ali fora, provocam um aumento da actividade na zona do cérebro relacionada com o sexo, o hipotálamo. No mundo animal, por exemplo, poderá desencadear a erecção nos macacos ou a ovulação nos roedores fêmea. E nós, como é que nós nos comportamos no meio de tudo isto?
O nosso córtex frontal é muito maior do que o da maioria dos animais e está envolvido com muitas outras funções cognitivas, este é o primeiro facto. E depois há ainda um outro problema: não se conseguiu até agora comprovar cientificamente a existência de feromonas no nosso organismo, embora haja indícios da sua existência. Os cientistas sabem que algo existe e tentam perceber como funciona.
Testes efectuados através da exposição a um núcleo de homens e mulheres, de compostos semelhantes à testosterona e estrogénio feminino, levaram à conclusão que o hipotálamo aumentava de actividade. E existem outras certezas: a tão falada sincronia dos ciclos menstruais entre as mulheres que convivem durante algum tempo juntas, foi uma das primeiras provas dadas da existência e da acção das feromonas entre os humanos.
O caminho a ser percorrido pela ciência para comprovar a existência das feromonas, como elas se libertam e quais os seus efeitos reais, ainda é muito longo. Apesar de todo o negócio efectuado à volta delas (basta pesquisar na net o mercado de perfumes que nos prometem a irresistibilidade), estes estimulantes sedutores e invisíveis ainda são um mistério.
Quanto a mim e às minhas investigações estranhas em noites de chuva, vou continuar a observar e tentar não tropeçar.