Apreensão. Talvez seja esta a palavra mais presente na vida quotidiana da geração que agora se faz adulta. Diariamente mergulhados em notícias pouco animadoras e em crises que já perderam a justificação porque a justificação é sempre igual, os jovens perdem a esperança de chegar onde os seus pais chegaram. A geração que nasce nos anos 2000 é apontada como a primeira geração cuja vida será pior que a dos seus antecessores.
Muitas vezes tento debruçar-me sobre os verdadeiros motivos para a descida gradual do poder económico que presentemente afoga os jovens mas a verdade é que com 40 anos, não tenho ideia de alguma vez não ter ouvido falar de crise. O facto de Portugal estar na cauda da Europa sempre foi um dado adquirido na minha vida, no entanto, julgo que a minha geração foi a última a viver numa conjectura económica positiva e que permitia um começo de vida autónomo com alguma viabilidade. Para ser justa, a maioria das pessoas da minha geração teve um início de vida equilibrado e impulsionado pelos pais.
Os meus pais fazem parte de uma vaga de crescimento económico que incluía muitas e variadas opções de emprego, facilidade na compra de casa e estabilidade financeira. Conseguiram, na sua maioria, proporcionar aos seus filhos um impulso que, bem aproveitado, os colocaria numa situação minimamente estável para dar início à vida adulta. Contudo, os 40 anos da minha vida são em decréscimo. A curva ascendente dos meus pais mudou o sentido e não há sinais que volte a subir tão cedo. Bolhas imobiliárias, taxas de juro, resgastes financeiros, crises do subprime, pandemias, alterações climáticas, guerras ao terrorismo; tudo isto deu origem a uma nova geração sem grandes projecções de futuro.
Enquanto as grandes fortunas de família se mantém mais ou menos intocáveis, a classe média é afogada em sucessivas más decisões económicas e políticas que impedem a sua estabilização e crescimento e que a empurra para uma classe empobrecida. Havendo uma classe média cada vez mais pobre, o Estado terá de ser um Estado assistencialista e não um Estado social onde a qualidade de vida das pessoas deveria ser garantida. Não se pode esperar que a taxa de natalidade cresça, por exemplo, se os casais nem dinheiro têm para sair de casa dos pais.
As desigualdades sociais são cada vez mais profundas, basta passear pelas ruas de Lisboa e ver que ao lado de mais um hotel, há cada vez mais tendas de pessoas a dormirem na rua. O cenário é desmoralizador e temo por esta geração que agora entra no mercado de trabalho e que passou os últimos anos da sua vida a estudar para conseguir ter um emprego que lhe garanta uma vida digna e são empurrados para fora do país, porque a vida digna terminou na minha geração.
Os problemas são os que sempre ouvi, não seria já tempo de se mudar as fórmulas resolventes para obter resultados diferentes?