Um Obrigado por dia não sabe o bem que lhe fazia

No seu livro Sidetracked: Why our Decisions get Derailed, and How we can Stick to the Plan, Francesca Gino, uma professora na Harvard Business School, explora um conjunto variado de temas fascinantes, como é o caso do modo como as emoções influenciam as decisões, ou como a compreensão da perspectiva alheia pode tornar-se numa grande fonte de conhecimento. Fundindo estudos sociais com exemplos reais, este livro salienta, principalmente, o poder que a gratidão exerce sobre o ser humano e a sua postura perante a vida. As mensagens presentes em algumas destas expressões tidas como corriqueiras estão repletas de forças que a maioria de nós não tem noção que existem. Cada um de nós, na maioria dos casos, não se apercebe o quão poderosas são as expressões de gratidão.

Numa das suas experiências relacionadas com a gratidão, Francesca Gino, juntamente com o Professor Adam Grant, da Wharton School, pediu a 57 estudantes para darem uma resposta a um estudante fictício chamado Eric, que havia enviado uma má carta de candidatura a um emprego. Metade destes estudantes recebeu um e-mail a confirmar a recepção da resposta, enquanto que a outra metade teve como resposta um e-mail que agradecia o parecer enviado. Quando, no fim da experiência, foi medida a noção de auto-estima, apenas 25% do grupo que recebeu apenas uma mensagem a reconhecer a recepção da resposta demonstrava ter valores elevados de auto-estima, comparativamente a 55% apresentado pelo grupo que recebeu a mensagem de agradecimento. Estes valores demonstraram ter uma grande importância na experiência seguinte, na qual os participantes receberam um e-mail de outro aluno fictício a pedir uma resposta à sua candidatura. Será que, neste segundo cenário, os participantes que receberam uma mensagem de gratidão de Eric irão ajudar o segundo aluno? Claro que ajudaram. Mais de metade dos participantes do grupo que foi alvo de gratidão (66%) ajudou o aluno que pretendia obter uma resposta à sua candidatura, enquanto que, no outro grupo, só 32% dos participantes é que demonstrou a mesma disponibilidade.

Tal como os exemplos demonstram, expressões de gratidão desenvolvem em nós uma sensação elevada de auto-estima, que nos leva a ajudar tanto quem nos solicita apoio directamente, como as pessoas que sabemos necessitarem da nossa ajuda. Obrigado é uma simples palavra repleta de poder transformador relativamente à nossa saúde, felicidade e sucesso, permitindo-nos manter uma boa relação com as pessoas que nos são mais próximas. Como refere Cícero, “a Gratidão não é apenas a maior das virtudes, é também a mãe de todas as outras.”

A etimologia da palavra “Gratidão” ajuda a entender este efeito generalizado na humanidade. A palavra é originária do antigo latim gratus, que tem a sua raiz em gratia, que significa “favor”, “qualidade prazenteira”, ou “boa vontade”. Derivados desta base latina podem ser encontrados noutras línguas do mundo, como é o caso do Sânscrito, que tem a palavra grnati (“cantar uma oração”), ou do Lituano, em que gririu significa “louvor”, “celebração”. Durante o século XIII, os membros da religião católica começaram a rezar um pequeno louvor antes de iniciarem uma refeição, para agradecerem a comida que disponham para si, chamando a este acto “dar as graças a Deus”. Esta acção de agradecer a um ser superior pelos bens que se conquistam foi denominada, na Grécia Antiga, de charis, cuja raiz é charisma, que significa uma qualidade aprazível que se tem e não é possível de ser adquirida. Assim, é possível afirmar que, começando por ser um presente imerecido (“dar graças a Deus”), a Gratidão é uma qualidade agradável (charisma) que leva-nos a expressar a apreciação, ou cantar um louvor (grnati), mesmo que um acto de apreciação não seja esperado.

É necessário relembrar-nos que a Gratidão é um conceito intemporal, que deve ser aplicado tanto aos outros, como a nós mesmos. Dizer “Obrigado” permite-nos demonstrar a alegria que sentimos pelas bênçãos que existem na nossa vida e pelas quais não nos é pedido nada em troca. É a Gratidão que nos permite saborear as dádivas que vão preenchendo as nossas vidas, independentemente da sua dimensão, através das quais retiramos poder para construir a nossa felicidade.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Quem te engana teu amigo é!

Next Post

EUREKA! (Parte 2)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

As mulheres e o seu tempo

Antigamente, nós mulheres, nascíamos com o destino traçado: ser donas de casa e mães! A nós mulheres e apenas a…

Tempero

Diz, quem sabe, que comida é metáfora da vida. Que na vida se utilizam os temperos em perfeita alquimia tal qual…