EUREKA! (Parte 2)

Colocámos a questão “Qual a maior invenção dos últimos 30 anos?” nas redes sociais e ficámos à espera. A única condição era que as respostas  fossem dadas por pessoas com idades entre os 30 e os 40 anos. Na semana passada ficámos a saber o que Maria Afonso, Bruno Soares e Miguel Soares pensam sobre este assunto. Esta semana, os intervenientes são outros e as invenções escolhidas também.

Teresa Fernandes: objectos que simplificam a vida

Teresa Fernandes, de 35 anos, professora do Ensino Secundário, respondeu com facilidade à questão que colocámos nas redes sociais. Sem qualquer tipo de hesitação, apontou “de rajada” três avanços dos últimos 30 anos que, no seu entender, vieram descomplicar o nosso dia-a-dia.

Desde que concluiu a sua licenciatura, faz mais de uma década, Teresa tem vindo a percorrer diferentes escolas e regiões do país. Este ano, por exemplo, já trabalhou numa escola perto de casa e numa outra mais distante que a obrigou inclusive a alugar um segundo apartamento. Longe da família e dos amigos, com as saudades apertar, não é de estranhar que Teresa eleja a generalização do uso do telemóvel como um dos avanços mais importantes dos últimos 30 anos. Não esquece, contudo, que também há desvantagens neste objecto:

“Para o melhor e para o pior, o telemóvel mudou completamente a forma como nos relacionamos uns com os outros”, começa por referir Teresa. “Por um lado, aproximou as pessoas, permitindo que estejamos sempre contactáveis e ao alcance de uma chamada. Por outro lado… afastou-nos!” E dá um exemplo: “É comum vermos pessoas sentadas à mesma mesa, mas que não se falam e nem sequer se olham. Cada uma está concentrada no seu telemóvel.”

Na realidade a comunicação móvel já existe há mais de 30 anos e Teresa está ciente desse facto. Porém, os primeiros aparelhos móveis apresentavam grandes dimensões, pouca autonomia e um peso excessivo. De portáteis tinham muito pouco e o seu preço tornava-os pouco apropriados para as massas.

A bibliografia diverge quanto à data de criação do primeiro telemóvel, mas há relativo consenso quanto a um dos marcos da História deste aparelho: a chamada que Martin Cooper, investigador da Motorola efectuou, na década de 70, a partir de uma rua de Nova York, com recurso a um dispositivo móvel. Em Portugal, o uso deste aparelho começa a generalizar-se nos anos 90. Hoje, praticamente toda a gente tem (pelo menos) um.

Se, inicialmente, o telemóvel era usado apenas para conversação audível, hoje caracteriza-se pela sua polivalência. Já é possível receber e enviar SMS, tirar fotografias, realizar vídeos e consultar a Internet, entre outras funções. Teresa Fernandes comprou recentemente um novo aparelho, porque o último “estava velho, já tinha quatro anos e era preciso um novo”, mas dada a rapidez com que a tecnologia está a avançar, nada garante que não o venha a trocar por um mais evoluído muito em breve.

A segunda escolha de Teresa recai sobre o MULTIBANCO, nome da rede de caixas automáticas lançada em Portugal pela empresa SIBBS no ano de 1985. Segundo Teresa, este sistema (que já existia noutros países) “revolucionou o conceito de Banco e a relação que o cliente tem com este”. Para explicar melhor o seu ponto de vista, Teresa relembra a sua infância e como era maçador, se não mesmo extenuante, acompanhar a mãe ao Banco, quando não existiam caixas automáticas no país. Nesse tempo, recorda, “tudo era tratado ao balcão. Havia filas infinitas e era preciso reservar uma manhã inteira para essa tarefa.”

Segundo um dossiê disponibilizado pela SIBBS (por altura do 25º aniversário da rede MULTIBANCO), as primeiras caixas automáticas do país foram instaladas nas cidades de Lisboa e Porto, permitindo “fazer levantamentos, consultas e alteração de PIN”. Mais tarde, a rede alargou-se e tornou-se possível realizar cada vez mais operações. De forma cada vez mais simples e rápida.

Sempre a pensar na rapidez, Teresa Fernandes explica-nos a sua última escolha – a Via Verde – uma invenção (cujo mérito é disputado por portugueses e noruegueses) que “simplificou a nossa vida, tornando mais práticos os pagamentos das autoestradas, dos parques de estacionamento e até mesmo do combustível”. Em Portugal, segundo dados da página oficial da Via Verde, esta ferramenta “foi inaugurada 24 de Abril de 1991 e formalmente constituída em 29 de Setembro de 2000, usufruindo de uma tecnologia de sucesso para a gestão de sistemas electrónicos de cobrança”.

Luísa Campos e a nanotecnologia: sim às fibras ópticas; não aos mosquitos!

Luísa Campos, de 34 anos, com um mestrado em nanociência e nanotecnologia, afirma que esta área, “pela sua vasta aplicabilidade prática no dia-a-dia”, desde cedo despertou a sua curiosidade. “Hoje em dia, são vários os ramos da indústria a produzir bens de consumo e equipamentos com recurso à nanotecnologia, ou que contêm nanoestruturas incorporadas”, refere Luísa, apontando a crescente utilização das fibras ópticas nos últimos anos, como um exemplo simples do que acabou de dizer.

As fibras ópticas foram inventadas por Narinder Singh Kanpany, no final da década de 50, mas nos últimos 30 anos a sua utilização tem vindo a crescer exponencialmente. São materiais filamentosos, de reduzido diâmetro que podem ser utilizados como condutores de luz de grande rendimento, isto é, quase sem perdas. No interior destas fibras, a luz propaga-se por reflexões sucessivas.

As aplicações deste material são imensas e vão desde a medicina (onde podem ser usadas no diagnóstico de doenças e na cirurgia) às telecomunicações. Nestas últimas, as fibras assumem-se como concorrentes dos cabos eléctricos, devido a aspectos como maior rapidez na transmissão de dados, menor consumo de energia e menor degradação do sinal.

Luísa Campos, que investigou metodologias para maior introdução da nanociência nas aulas do Ensino Básico e Secundário, afirma que “as fibras ópticas facilmente deslumbram os jovens, por serem capazes de transmitir grandes quantidades de dados”. No ano de 2013, Luísa realizou na sala de aula diversas experiências envolvendo nanotecnologia e as reacções dos alunos foram bastante positivas.

Das fibras ópticas, Luísa passa para as toalhas anti-mosquitos, um outro exemplo prático da aplicação da nanotecnologia e não tem dúvidas quanto à importância da invenção: “Sou um autêntico chamariz de insectos”, exclama Luísa e, num tom dramático, acrescenta: “Esteja onde estiver e com quem estiver… se existirem mosquitos… é a mim que eles picam! As toalhas anti-mosquitos vão dar muito jeito a quem, como eu, faz alergia à picada de insectos.”

As toalhas anti-mosquitos resultam de uma parceria entre a marca portuguesa de moda de banho Enamorata e a Smart Inovation, uma empresa de Barcelos. Luísa Campos explica que as características da toalha se devem “à incoporação de nanopartículas repelentes de insectos no interior do tecido”. De acordo com os criadores da toalha, este material possui “grande valor acrescentado”, pois permitirá “combater doenças como a febre-amarela, o dengue, ou a malária”.

De acordo com a página de Facebook da marca Enamorata, neste momento, as toalhas já estão à venda. “Ainda não comprei uma”, diz Luísa. “Por isso, se alguém me oferecer… eu aceito de muito bom grado,” remata em tom de brincadeira.

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