Filmes que marcam pelas suas cenas iniciais

Há filmes que nos tocam, outros, nem por isso. Todos nós temos o nosso Top 10, dos melhores dos melhores, e, se não tivermos, há quem o faça por nós. Basta dar uma olhadela por alguns sites da especialidade para perceber do que falo. É os melhores filmes de terror, é os filmes com as melhores cenas, é os melhores filmes deste ou daquele realizador, enfim, uma infinidade de listas. Porém, mesmo assim, com tantas listas poucos são aqueles que falam das obras cinematográficas que com ajuda das suas excelentes cenas iniciais nos fazem prender desde o início ao fim, sem pestanejar.

Um desses filmes é O Resgate do Soldado Ryan (1998). Quem assiste dificilmente fica indiferente à primeira meia hora. Há quem defenda mesmo se tratar dos minutos mais dramáticos da História do Cinema. Certo é que Steven Spielberg foi audaz com esta sua obra-prima, ao encenar o desembarque na costa da Normandia, que continua até hoje a ser considerada a maior invasão marítima da História. O telespectador fica logo nos primeiros instantes em êxtase, quando na tela surgem os soldados norte – americanos a desembarcarem na Praia de Omaha. Entre constantes bombardeamentos e as imagens mais terríveis – desde homens a morrer, a deambular com partes do seu corpo nas mãos, operações e amputações a sangue frio –, Steven Spielberg faz um retrato aproximado da realidade, deixando-nos, logo ao fim de 27 minutos, uma sensação de vazio. Não é, por isso, de surpreender que a primeira parte de O Resgate do Soldado Ryan esteja na primeira posição da lista do TV Guide dos “50 Maiores Momentos do Cinema”.

Falar das melhores cenas iniciais sem referir Pulp Fiction (1994) é daqueles erros que se deve obrigatoriamente evitar. Logo nos primeiros instantes Quentin Tarantino dá a entender que não se trata de um filme qualquer. Num diálogo minuciosamente bem escrito e com uma boa pitada de humor negro ao estilo de Tarantino, um casal planeia fazer mais um assalto, enquanto toma calmamente o pequeno-almoço num restaurante de uma cidade qualquer americana. Depois das mais variadas e surpreendentes teorias dos melhores locais a serem assaltados, a cena tem uma reviravolta inesperada, quando ambos decidem assaltar o próprio restaurante. Um momento que não é indiferente aos cinéfilos mais aguerridos, como a qualquer um de nós, sobretudo, quando a banda sonora encaixa que nem uma luva à cena. Depois de uma apresentação assim, o difícil é não ficar preso ao ecrã até ao fim de um filme magistralmente bem escrito.

Agora sem recorrer à Indústria Americana e num olhar atento ao que tem sido feito recentemente, sobressai mesmo aqui ao lado na terra dos nuestros hermanos a cena introdutória do surpreendente filme do realizador Jesús Monllaó – O Filho de Caim (2013). A enigmática cena do pai a dar banho à filha que se ausenta para atender uma chamada e que, quando regressa, encontra, em vez da menina, uma mancha de sangue na banheira. Uma cena que, além de nos deixar com um ponto de interrogação, torna-se fulcral para entender a misteriosa personalidade de Nico. Contudo, o que realmente fica na memória é quando o interroga “O que fizeste?”, diante do olhar perturbador do jovem. O mistério é desde logo lançado, num filme repleto de suspense, comprovando a excelente evolução do cinema espanhol nos últimos anos.

O objectivo deste artigo nunca foi fazer uma lista, isso fica ao teu critério, deixo apenas umas pinceladas numa tela composta por muitos outros excelentes momentos iniciais da Sétima Arte. O que se retira de bom daqui é que a originalidade e a perspicácia do Homem continuam bem vincadas, surpreendendo-nos dia após dia.

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