Conheci este autor, quando o meu tio me ofereceu El Príncipe de la Niebla. Encontrei o meu género literário e viciei-me imeditamente, não só na escrita, mas também nos lugares a que ele nos guia na nossa própria imaginação. Devorei todos os “romances juvenis”, como chamam a estes primeiros livros de Ruiz Zafón, e concordei absolutamente, quando li algures que o autor afirmava que escrevia as histórias que sempre quis ler – cheias de ambientes novos e refrescantes, com personagens mágicos e inesquecíveis e, simultaneamente, são também livros tristes. Desenganem-se se pensam que há algo de infantil neles, já que conseguem deixam-nos sempre com o coração apertadinho e a viver cada palavra. Os livros deste autor não nos vão trazer um final absolutamente feliz e um romance irrealisticamente perfeito. Vão fazer-nos viajar a lugares mágicos, negros, obscuros, maravilhosos e voltar com uma impressão estranha na nuca e uma melancolia que não conseguimos sacudir.
Falando agora de La Sombra del Viento, encontramos neste primeiro livro dos “romances adultos” (como foram chamados) o jovem Daniel Sempere, que nos acompanhará também no terceiro livro, cujo pai o leva finalmente a conhecer o Cemitério dos Livros Esquecidos, um lugar onírico e secreto, onde estão guardados todos os livros perdidos que existem. O guardião desse lugar diz ao pequeno Daniel que ele pode escolher um livro, desde que prometa cuidar dele, e Daniel escolhe um livro intitulado La Sombra del Viento, do misterioso Julián Carax. Daniel adora o livro e procura mais informação sobre esse autor barcelonês desconhecido, o que o vai levar a um desencadear de sucessivas aventuras e a um desvendar de várias histórias perdidas da velha Barcelona. Quem é Julián Carax? Quem é que está tão empenhado em destruir todos os livros deste autor?
Daniel vai cruzar-se com personagens fabulosos, mas também sombrios, perturbados e perturbadores, com tanto de mágico como de real. A pare com estas personagens e do protagonista de La Sombra del Viento, conhecemos o maravilhoso e engraçado Fermín Romero de Torres, um personagem brilhante e catártico, que nos faz rir, enquanto que fugimos pela nossa vida, e que se vai tornar no grande companheiro de Daniel. Desta forma e passo a passo, na pele de Daniel e daqueles com quem ele se cruza, vamos descobrir a amaldiçoada história de Julián Carax.
Para mim ler este livro foi… tudo. Foi querer escrever algo que fosse sequer metade do que aquele livro era para mim. Não conseguir parar de ler. Foi ter vontade de ler mais, de viver aquela história. Uma aventura espectacular pela velha Barcelona, cheia de nevoeiro, chuva, lugares secretos e personagens à espreita. “Uma aventura através do tempo e da imaginação”, como tão bem li algures e que descrevem tão bem o assunto. Com espaço para o amor, para a desilusão, para fazer novos amigos, para pequenas vitórias e grandes derrotas e, claro, sempre em volta dos livros. Como a vida.