A desmaterialização da música

A música tem desde sempre acompanhado a evolução do Homem e, nesta fase, onde se exige o acesso livre à informação e a música não poderia ficar de fora. Actualmente, já não temos de sair de casa para termos acesso à música, a arte encontra-se à distância de um simples clique. O vinil, as cassetes e os cd’s são peças que alguns ainda têm em casa, são pedaços de história que cada vez que são avistados arrastam qualquer um para algum momento especial, um espaço, um tempo que já passou. São verdadeiras máquinas do tempo.

Longe vão os dias em que os discos de 78 rpm eram os reis, ou das jukeboxes que deliciaram milhões, com o mundo a render-se às cassetes e ao walkman, que coroo muitos reis do liceus, e aos leitores de CD’s que os sucederam até aos leitores de mp3, tudo isto representa um pouco da História da música on-demand. O século XXI trouxe-nos o streaming, esta nova forma de ouvir música que permite-nos ter acesso a todo o tipo de música alguma vez feita, desde Bach ao nada-talentoso vizinho do lado. Hoje basta-nos ter ligação ao infindável mundo da Internet e um dispositivo a ela ligado para reproduzirmos qualquer música que queiramos. O céu deixou de ser o limite.

A cada dia que passa um novo termo surge no nosso léxico: Napster, Spotify, Rhapsody, Google Play, ou Beats Music. Existe uma lista infindável de serviços, todos eles com uma média de 25 milhões de músicas em catálogo, disponíveis gratuitamente, ou mediante o pagamento de uma licença que pode ser paga em diferentes moldes. Os prestadores deste tipo de serviço foram criados baseados no princípio da liberdade de acesso e também como forma de combater a pirataria e salvaguardar, de alguma forma, a propriedade intelectual. É um mal menor, já que satisfaz o apetite voraz da nossa sociedade para com o consumo de música.

De há uns anos para cá, a venda de álbuns e singles sofreu um decréscimo acentuado, revelando-se um novo inimigo para a indústria discográfica e os artistas: os downloads ilegais. Com as pessoas deixaram de pagar para ouvir música, quem vive da música teve de fazer-se à estrada e arranjar estratégias implacáveis de promoção passou a ser vital para os artistas. O streaming permite ao servidor contratar com as discográficas um serviço em que elas disponibilizam os seus catálogos aos clientes que, gratuitamente, ou através de uma licença paga, podem ter acesso a um determinado acervo virtual. Desta forma, pagar para ouvir música voltou a compensar.

Com esta nova forma de ouvir música, deixou também de existir a preocupação com o espaço de armazenamento, um problema com que muitos se debateram antigamente, em que o acto de escolher as músicas que nos acompanhariam durante o dia provocava tumultos emocionais (era como ter que escolher qual dos filhos salvar de uma hecatombe). Muitos advogam que o streaming é o sonho dos consumidores e a tábua de salvação para as discográficas, principalmente as de grande dimensão. Contudo, não é um tema pacífico, com a eterna batalha pelos direitos discográficos a estar novamente acesa.

De um lado, estão alguns músicos, como Pharrel Williams, ou Chick Corea, que utilizam estas plataformas para o lançamento dos seus novos álbuns. Do outro, estão artistas que preferem manter-se longe desta nova moda. Artistas como Beck, Thom Yorke, David Byrne, The Black Keys e Amanda Palmer criticam e questionam os benefícios deste novo modelo de negócio, em que artistas independentes lutam para poderem lançar a sua música e mesmo os artistas de renome pouco ganham.

O streaming é apenas a ponta do iceberg corporativo que é a música. Uma guerra que é mantida longe do consumidor, que apenas quer ouvir a música, a quem não interessa de onde vem e que apenas está preocupado em encontra-la para poder ouvi-la.

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