Berlim não é uma ilha!

Em 2019, fui conhecer Berlim, uma viagem curta de quatro dias e, sendo uma cidade enorme, foi impossível visitar tudo. Contudo, existem alguns ex-libris que são indispensáveis, quando se visita esta cidade.

A Ilha dos Museus é composta por cinco museus: o Altes Nationalgalerie, o Museu Pergamon, o Neues Museum, Altes Museum e o Museu Bode. Todos os edifícios são magníficos, mas o mais imponente é o da Catedral de Berlim que também faz parte da “ilha”.

Em estilo barroco com influência do Renascimento italiano, a Catedral foi construída entre 1895 e 1905 e, apesar de ser a igreja protestante mais importante em Berlim, nunca foi sede de um bispado. Uma das principais atrações que a visita à Catedral oferece é a possibilidade de se subir até à cúpula e ter uma vista fantástica da cidade. Disse possibilidade, porque para se chegar lá tem de se subir os 270 degraus! No interior da Catedral os visitantes são recebidos por altares e vitrais deslumbrantes e é impossível ignorar a obra de arte que é o teto da cúpula, com uma imensidão de detalhes que hipnotizam qualquer pessoa. Para além disto, é aqui que está o maior órgão de tubos da Alemanha.

Uma visita ao Parlamento – o Bundestag – que fica no Palácio Reichstag também é interessante, já que é possível visitar e percorrer a sua magnífica moderna cúpula em vidro e aço. O edifício é enorme e no pórtico de entrada está escrita a frase Dem deutschen Volke – Ao povo Alemão.

Mesmo ao lado do Bundestag existe um enorme parque da cidade – o Tiergarten – que faz ligação ao Portão de Brandenburgo, outra atração turística bem conhecida da cidade onde se costuma tirar as fotografias típicas de uma viagem a Berlim.

Muito perto deste monumento encontra-se outro ex-libris da cidade e que está carregado de uma energia pesada pelo que simboliza – falo do Monumento do Holocausto, em honra dos judeus vítimas do regime nazi. A forma como a praça foi projetada transmite uma certa claustrofobia e medo, pois à medida que os blocos vão crescendo em altura as sombras e a escuridão vão aumentando. Não é um local para se passar e andar, tem de se estar e absorver todo este simbolismo.

Outro ponto a ser visitado é o Checkpoint Charlie, que foi um posto militar construído na fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental durante a Guerra Fria e ligava o setor americano com o setor soviético. A divisão causada pelo Muro de Berlim, levou à necessidade de criar um posto onde houvesse registo das passagens de membros das forças aliadas e diplomatas estrangeiros entre a Alemanha Ocidental e a Oriental. É um ponto turístico interessante não só pelo que representa, mas também pela interação que há entre os turistas e os figurantes de soldados americanos.

A cidade de Berlim tem bastantes praças e uma das mais bonitas é a Gendarmenmarkt. Nesta praça existem três magníficos edificios: a Konzerhaus – Casa de Concertos – que é o edifício central; a Französischer Dom – Catedral Francesa – que se encontra à direita da entrada da Konzerhaus; e a Deutscher Dom – Catedral Alemã – que se encontra à esquerda. As duas catedrais apresentam estruturas arquitetónicas muito semelhantes.

Outra praça interessante é a Rathausstraße, onde está o Rotes Rathaus – a prefeitura de Berlim – a Torre TV, a Igreja de Santa Maria e a Fonte de Neptuno. A Torre TV é a atração principal e é possível subir até ao topo, para ter uma visão panorâmica incrível da cidade. Foi construída entre 1965 e 1969 e, com uma altura de 368 metros, é a quarta maior estrutura sem apoios da Europa. Esta beleza tem a peculiaridade de ter um elevador que em quarenta segundos chega ao observatório da Torre e a viagem é suave que nem se dá por ela!

Muito perto dessa praça fica o Museu das Ilusões que, não sendo uma atração principal, é um museu muito engraçado e animado. Como é um museu pequeno não demora muito tempo a ser percorrido, mas prepare-se para ser surpreendido em cada cantinho. Tem bastantes pontos onde os visitantes são convidados a participar e a experimentar os efeitos ilusórios.

Ainda no centro de Berlim outra das atrações é a East Side Gallery, uma parte do muro do lado oriental que está embelezado com murais fantásticos de street art. Esta galeria ao ar livre tem uma extensão de 1316 metros, com 106 pinturas de artistas de todo o mundo que têm um caráter político. Os murais começaram a ser pintados em 1990.

Uma das obras mais icónicas deste local é a pintura intitulada Mein Gott, hilf mir, diese tödliche Liebe zu überleben – Meu Deus, ajude-me a sobreviver a este amor mortal – e é do artista russo Dmitri Wrubel. Tem como base uma fotografia que captou o momento do abraço entre Leonid Brejnev e Erich Honecker em 1979, pelo trigésimo aniversário da Alemanha Oriental. É uma sátira ao beijo fraternal socialista, que é uma forma de saudação especial entre os estadistas de países comunistas e consiste num abraço combinado com três beijos nas bochechas. Em casos em que os dois estadistas se consideram bastante próximos, os beijos podem ser dados na boca em vez das bochechas. No final desta galeria está a ponte Oberbaumbrüke, que é bastante peculiar por ter dois pináculos ao centro que lhe dão um aspeto de entrada para um castelo; e dois tabuleiros: o superior é usado pelo U-Bahn e o inferior está destinado para o tráfego rodoviário.

Por último, há um lugar que deve fazer parte do roteiro: o Campo de Concentração de Sachsenhaussen. Fica em Oranienburg, uma localidade muito perto do centro de Berlim e, não tendo a dimensão do campo de Auschwitz, é impossível não sentir a alma pesada só de imaginar que naquele local morreram tantas pessoas por causa da intolerância e da ignorância.

Como é de esperar no portão de entrada também existe a frase Arbeit Macht Frei – O Trabalho Liberta e é aqui que se tem o verdadeiro impacto do local onde se está prestes a entrar – um local  atroz e onde a maldade humana não teve limites…

Este campo data de 1936, foi construído por prisioneiros de outros campos de concentração e entre 1936 e 1945 passaram pelo campo 200.000 presos. Foi planeado para ser um “campo ideal”, com o intuito de alterar internacionalmente a imagem do nacional-socialismo e, ao mesmo tempo, submeter os prisioneiros à força das SS. Milhares de prisioneiros morreram por doenças, causadas pelos trabalhos forçados e abusos, enquanto outros foram vítimas dos constantes assassinatos das SS.

Devido à sua proximidade com a capital, tinha um lugar de extrema importância no sistema dos campos de concentração nazistas, especialmente depois de, em 1938, a Inspeção Geral dos Campos de Concentração – organismo que detinha a administração geral dos campos – ser transferida de Berlim para Oranienburg.

Como disse no início, a cidade é enorme e há muitos mais locais interessantes para serem visitados e explorados. Quando planear o seu roteiro tenha em conta o número de dias que tem disponível e quais as atrações que mais lhe chamam à atenção.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
Share this article
Shareable URL
Prev Post

APELO URGENTE: humanidade precisa-se!

Next Post

Solstício de Solidão Não-Solicitada

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Aquele verão mágico

As férias de verão sempre marcaram os melhores episódios da minha infância e também da adolescência – um…

O S. João no Porto

O Porto é sentido por quem cá vive. É uma forma de estar que se apanha e entranha. O Porto é sentido pelos que…