Eu sofro de depressão. Parece uma mera frase, mas que durante anos me atormentou com medo de assombrações cinemáticas, dignas de Tarantino. Não é uma situação temporária, um precipício do qual me possa afastar ou um barco que possa deixar partir. Porém, a escolha continua a ser minha: saltar ou levantar a cabeça e apreciar a paisagem que me rodeia, deixar-me afundar ou apreciar a viagem. O mais difícil? Viver rodeada de outras pessoas que se fingem de pedra, quando são construídas de algodão.
Todos nós, em inícios da adolescência, face a uma crise de meia-idade ou enquanto tomamos um café em silêncio, rodeados por pessoas na esplanada, nos questionamos: “Será que sou o único a pensar assim?”. A verdade é que não sei o que cada um vai deambulando dentro de si, em meios sussurros para si mesmo, mesmo quando berram para os outros as suas inseguranças, confianças e contradições. Todavia, tenho a certeza que a síndrome deficitária de comparação está lá, a rondar e sempre pronta a atacar, se lhe dermos espaço.
É muito simples cair no erro de copiar o que o outro está a escrever, fazer ou até mesmo repetir o modo como os outros vão actuando. Por vias de segurança, por mais que tenhamos certezas do que somos, repetimos para nós mesmos que só o fazemos para ter certezas. Afinal, geralmente, o comportamento da maioria é o mais correcto. O pior vem com a diferença. Quando reparamos que os outros não agem como nós, não lidam com as contrariedades como nós, não têm os mesmos sonhos, as mesmas ambições… Pois, aí é que está tudo estragado. Sentimo-nos feitos de cartão, de cortes mal-amanhados e cada vez mais desfeitos em água.
O que todos acham – ou, pelo menos, era o que eu pensava – era que os fracos são poucos e os fortes permanecerão bem, felizes e “em pé”, sem precisar de sorte, fé ou amor. Só depois de esfarrapar os joelhos umas quantas vezes, nesta vida curta para o qual não encontrei o manual de instruções, é que percebi que não passamos todos de fingidores. Ninguém é verdadeiramente alegre a toda a hora. Ninguém está sempre a sorrir. Todos temos aqueles dias em que sair da cama parece um sacrifício demasiado grande, mas ficar lá parece-nos tortura. A cabeça vai trabalhando, continuando a gritar todas as nossas falhas, todas aquelas vezes que falhamos e todas as vezes que vamos falhar. A verdade, meus caros, é que não passamos de uns falhados. Estamos marcados assim desde a nascença, mas não estamos condenados.
A diferença entre uma mente vencedora e uma mente destruída é a sua capacidade de parar o tempo. Digno da Marvel, percebi que todos temos esse super-poder dentro de nós. Ainda não tinha descoberto isto? Eu explico-lhe como pode parar tudo o que se passa em redor de si e, mais importante que isso, como desligar essa vozinha que insiste em fazer comparações desproporcionadas e mesquinhas com outras pessoas, realidades e mundos destrutivos.
O primeiro passo, digno de um prémio, passa pela necessidade de criar objectivos e focar-se nessa listinha, desde o mais básico, ao mais complexo objectivo. Lembre-se de fazer passos lógicos e que o deixem, efectivamente, próximo da sua felicidade – eu tive de sair da cama e vestir uma peça vermelha nos meus tópicos durante um mês antes de, finalmente, sentir-me feliz com a minha aparência. Comece por sair da cama e pegar numa caneta. Escreva o que lhe apetecer – pode fazer um texto enorme, ou simples tópicos monossilábicos. Parabéns, já ganhou o controlo da sua vida, só neste passo que tanto lhe pode custar a dar.
O que lhe vou dizer a seguir pode doer um pouco mais a cumprir. Já se levantou e fez um plano de passos a dar que o aguentem até ao fim do dia sem se achar uma miséria ou um incapaz de alcançar o sucesso? Bem, agora só lhe falta dar o derradeiro passo. Force-se a cumprir o que escreveu, enquanto desempenha a atitude que deseja ter. Finja até se tornar verdade – “fake it till you make it”– é a máxima que lhe vai permitir mudar de atitude, aos poucos e poucos, sem se aperceber. O esforço inicial vai diminuindo conforme não só o tempo vai passando, como vai conversando consigo mesmo. Reclame, alto e bom som, consigo. Ria-se do quão idiota é, em certas ocasiões. Chegue ao fim do dia e prepare-se para dar o último passo para desenvolver o seu super-poder.
O dia acabou, mas o seu trabalho ainda não está concluído. Volte à caneta e ao papel. Faça um esforço, converse consigo mesmo e indique os três melhores acontecimentos do dia e os três piores. Tente perceber como dar a volta a esses três problemas e encontre os três pontos positivos que quer ver no seu dia de amanhã.
O dia passou, enquanto ia fazendo pequenos esforços. Lembre-se que cada momento é um momento e que não precisa de estar alegre em todos eles. Finja estar, quando conseguir, e desabe se não aguentar. Respire fundo e volte à carga. Todas as horas são um bom ponto para começar. Objectivo último? Ser feliz, à sua própria maneira!
O relógio vai avançando, a vida passando e as suas metas querem que as cruze. Faça de si o ponteiro e dê corda a si mesmo. Está na altura de parar o tempo e salvar o (seu) mundo!