Tal como o livro, começo pelo meio: inesperado. Um livro completamente inesperado, uma história diferente e nova – ou, pelo menos, nunca li uma abordagem igual. Os temas subjacentes a este livro também são deliciosos.
Digo-vos também o fim: chorei. Ao acabar este livro, não pude evitar que me caíssem umas lágrimas. Quando existem animais na história, é mais forte do que eu.
Agora, um pequeno resumo em jeito de sinopse: Rosemary Cooke tem uma irmã da mesma idade e um irmão mais velho, que fizeram parte da sua vida mas já não estão nela. Costumava falar muito, falar sempre, não se calava, mas também isso mudou: ela é, agora, uma jovem calada e praticamente filha única. Tudo na vida dela está diferente do que costumava ser, e ela vai explicar-nos porquê neste livro.
Depois destes apontamentos importantes, vamos começar pelo princípio: Karen Joy Fowler é tão, mas tão maravilhosa a escrever. We are all completely beside ourselves é, ao mesmo tempo, um livro que emociona e que faz rir. Surpreendente e inesperado. A autora consegue transmitir-nos uma empatia enorme, não só com todos os humanos do livro como também com os animais. A escrita é deliciosa, inteligente, cáustica, irónica, inquietante e hilariante. Rosemary é uma personagem muito interessante, muito inteligente, engraçada e witty, que nos narra a sua história fantástica. Rosemary está agora em 2012, mas, para contar a sua história, tem de voltar a 1996 e começar pelo meio, pela sua vida na Universidade. Só assim nos consegue explicar o princípio de tudo, quando tinha 5 anos. Depois, para nos fazer sentir a história na nossa pele, leva-nos ainda mais para o passado e surpreende-nos. Isto, claro, sem deixar de nos contar, ao mesmo tempo, o que se passa no presente da narrativa – 1996 –, para mais tarde nos conseguir explicar o seu actual presente: 2012.
Confusão? Nada disso, ao ler o livro faz tudo muito sentido e conseguimos perceber exactamente porque é que tivemos de ir sabendo assim, com cuidado, entrando na história aos poucos, para nos apaixonarmos pela vida de Rosemary.
Também aprendi muito sobre um tema que adoro, psicologia (o pai de Rosemary é psicólogo). O livro fala sobre teorias e contradições, pensamentos e acções, estudos feitos e estudos que, talvez, não se devessem fazer. É fascinante.
Isto é o que posso dizer em relação à história em si. Não posso contar mais. Quero contar tudo, mas não posso sequer levantar o véu, para ficarem tão surpreendidos como eu fiquei.
Quanto aos temas subjacentes, são tão reais. Que as decisões da nossa família nos podem afectar para sempre de uma forma que nem imaginamos. Que o amor é poderoso. Que todas as famílias estão loucas, completamente fora de si – cada uma com a sua loucura em particular. Que os animais são mais do que aquilo que os humanos fazem deles. Que a diferença pode ser maravilhosa. Que as dinâmicas familiares são sempre complexas. Aliás, que o humano é complexo. E que grande parte dos nossos erros pode, até, advir das melhores qualidades que temos em nós.
Não pude evitar comparações e rir-me, porque também a minha família tem a sua dose de loucura. Ninguém está sozinho. Também eu sou producto de escolhas minhas e de escolhas que foram feitas no meu lugar, algumas inevitáveis e outras que vieram das melhores intenções.
Este livro fez-me pensar (ou perceber?) que o ser humano partilha, mais do que tudo, esse segredo: na verdade, estamos todos (um pouco, ou completamente) fora de nós.