Os cortinados que as redes sociais possuem, escondem imenso o real e confundem no que é realidade ou ficção. Quase nos deixam crer que vida perfeita existe e há quem corra eternamente atrás dessa.
Há pressa. O tempo voa! E a corrida pela perfeição não cessa. A eterna necessidade, por parte de nós humanos, em sermos aceitos, acaba por descarrilhar o bonde. O tal crescimento sadio, gradativo, pula etapas. E pulam o processo.
Com diz sempre uma pessoa sábia, perto de mim: “As pessoas querem alcançar o topo, mas não suportam o processo”!
Em tradução clara: Nada vem fácil ou rápido demais. Seja uma grande amizade a ser construída, um projeto à se consolidar, uma relação sentimental se firmar, da primária ao liceu os anos no colégio ultrapassar, uma gestação de nove meses a durar, até mesmo o preparo de um bolo, do início da massa até do forno tirar. Tudo tem um processo, etapas, evolução.
Com a urgência de resultados, pula-se esse tal.
Um exemplo atual – também soube há pouco, não se espante – é viajar para um país distante com promessa mais económica, de corpo perfeito: barriga, peitos, glúteo… quase a qualquer preço. Os riscos? O fundamental como alimentação, ginásio, orientação multifuncional, para que? Pode pular isso aí, para mais rápido vai ser! E o corpo da influencer, vai que tens a sorte em ter.
Tu e eu somos livres, faz quem quer e arrisca quem paga! Quem sou eu para julgar? O corpo – e a vida – cada um cuida do seu. Tendo plena consciência que nem devo me meter, mas me acabo por questionar tudo que esse saltar etapas vem trazer.
Ver a “famosa” postar o corpo “perfeito” dois meses pós parto, com dieta de vinte ovos, botox ativo e o melhor sorriso de lente que poderia ter. Patrocinadores ou quem custeia isso tudo ela têm e você, reles mortal, vai ficar doido para também ter.
A conta não fecha! Autoestima tem seu valor no sentido até literal mas a mudança vem por si próprio ou para agradar alguém. Se arruma para si ou para o outro ver?
Não é difícil de se ver em mesa de restaurante, o prato entregue arrefecer em troca de tempo perdido das fotos para postagem, a pessoa fazer. E lança direto na rede social para ver se likes ou shares vai ter! Por vezes pousa o telemóvel e vai comer, sem papo bom, sem interação e sem prazer! Falsa felicidade que chama?
Arrisco em me meter e dizer que o valor e resultado não compensa o risco. Se isso é boa vida, já não sou eu que vou dizer. Mas criar um personagem e viver fora da realidade, um dia acaba. A rede social de hoje é como a novela que assistíamos no passado. Acompanhar o Instagram, TikTok, ou seja lá que rede for, é como seguir os capítulos da TV antigamente. Se esperávamos os comerciais para saber as novidades, hoje basta rolar o dedo que os stories te mostram as cenas do dia e o vício não termina.
Um conto pessoal é quando, comentei com uma colega distante que já tinha um segundo filho, houve espanto total. A pergunta dela imediata: “Mas nem sabia que estava grávida, você não postou nada no seu perfil”. É o poder da escolha no que expor, quando expor e para quem expor. Whatsapp, e-mails e outros meios mais discretos continuam disponíveis para evitar grande alarde.
A vida segue fora. Os filhos crescem e você não “vê”, o namoro passa e vira mais “instagramável” do que real, o beijo fica superficial. Os pais envelhecem e deixamos estar. Os almoços em família, as conversas aleatórias e até passeios culturais são trocados por fotos para postar e o resto do tempo, na rede social ficar.
Adolescentes saem no intervalo da escola para jogar virtualmente ou em redes sociais ficarem, mas esquecem mesmo é de conversar, socializar e até namorar. A convivência se limita e restringe contato. Afasta. Assim crescem. E evoluem?
A famosa divulga um creme que viraliza, o pseudo-famoso espalha fofoca que cancela o inocente, o ator esquecido tenta mídia fazendo bizarrices “em direto”…
É tempo todo, todo tempo, a busca por um “preenchimento” de um vazio que nem sabe de onde vem. Tão quão é mesmo importante a aprovação do outro lado da tela, na maioria de quem nem conhecemos? Tamanha exposição social!
A partilha dos posts as milhares de visualizações, os directs enviados. Sei que para muitos se tornou profissão, mas para os ditos comuns, que nem dinheiro está envolvido, qual objetivo? Ok, eu sei. Pode ser somente o “alimento” de alguém. Alimentar o ego, a alma, a estima, a ilusão de alguém o querer bem.
A ressaca social, um dia vem.
Qual o preço disso?
A vida passa, os anos também. Tem quem seja “cancelado” por um deslize, uma fala infeliz, mas que mal tem? Atire a primeira pedra quem nunca errou, mas com plateia “em direto”, a propagação – do amor e ódio – aumentou na proporção.
O desconhecido que fica rápido famoso. O famoso que fica rápido desconhecido. O público de casa, com telemóvel na mão, dita as regras dos likes e dislikes.
Viver os detalhes. Aproveitar sem partilhas. Aprender, ou reaprender, a viver sem divulgar. Provar só para si e quem realmente importa, que és capaz – ou não. Quem vai te acolher seja pelo bem ou pelo mau será sempre quem gosta de ti. Sem máscaras, telas e afins.
Falhar faz parte – do tal processo – e não é necessário “centenas de dedos internéticos” a apontar, confortavelmente de casa ou de estiver, o seu erro. Certeza que perto de ti não esta.
O aprendizado não precisa necessariamente de tanta negatividade e falsa amizade. Se isso já é bom conselho para a vida real, imagina na virtual!
As melhores coisas da vida podem e deve(riam) ser feitas em “silêncio”.
Nota: Esse texto foi escrito seguindo as normas do português do Brasil.