Se tivesse que dar uma alcunha à Margarida, seria, sem sombra de dúvida, Forest! Ou Speedy Gonzalez! Ou Bip-Bip! Ou Turbo! Bolt! Chita! Acho que já deu para perceber a ideia.
Pois, a Margarida tem 35 anos, é casada com o Tomé e tem dois filhos: o João com 8 anos e a Maria com 2.
A Margarida e o Tomé trabalham ambos das 09h00 às 18h00. Os pais deles, avós babados dos miúdos, ainda são jovens e também eles têm os seus empregos e as suas ocupações. Posto isto, vamos aqui resumir, em tempo acelerado (mas quase real) um dia na vida desta família.
Ás 06h40 toca o despertador do Tomé, às 06h50 o da Margarida, saltam ambos da cama, a essa hora, a Maria grita do seu quarto: mãe!!! Já cantou o corócoco, não se faz barulho coró!!.
E eis que parece o tiro da partida: em cinco minutos o Tomé está no banho, a Margarida veste a Maria, chama o João para se vestir. O pequeno almoço é a correr, vestem se casacos, descem se as escadas a voar, entra-se no carro, o João esqueceu se da mochila na entrada, o Tomé vem a correr atrás deles e atira a mochila para o banco do pendura. Há um beijinho e um até logo. O Tomé segue para o trabalho, a Margarida inicia o tour pelas escolas: o João primeiro, a Maria depois. Olha para o relógio: 8:45, ainda há tempo para estacionar o carro a dois minutos do escritório e parar no café para o shot da manhã. Margarida abre o Instagram só para espreitar pequenos almoços perfeitos e miúdos impecavelmente vestidos a caminho das escolas.
8:58 – Margarida e Tomé entram nos respectivos escritórios, de onde sairão às 18 e pouco, com uma hora de pausa a meio do dia para recarregar baterias. A essa hora começa o segundo round: a Margarida sai do trabalho, são 18:15, corre para a escola do João, que já está no ATL mas só até às 18:30, depois mais um sprint até à Maria que a escola fecha às 19. Voltam para casa, entretanto o Tomé chega. Banhos, jantares, roupas, limpezas… São 23:00 quando se sentam ambos na sala, os miúdos dormem. Vamos ver uma série na televisão? Pergunta a Margarida, 5 minutos depois, dormem ambos no sofá, meia noite e pouco transferem se para a cama, fecham os olhos e… 6:40 toca o despertador.
Este é o dia de tantas Margaridas e Tomés, e hoje a Maria tem dois anos, amanhã irá para a escola primária, para o ano para a faculdade. O tempo não pára, o tempo voa, o tempo é ingrato e relativo e nós andamos em contra-relógio. Um belo dia olhamos para trás e os miúdos cresceram, a nossa cabeleira escura transformou se num prateado, as rugas reclamaram o seu lugar.
Na sociedade actual, o normal é viver a correr, trabalhamos mais horas que as que passamos em casa, os fins de semana são mal aproveitados, os finais de dia têm pouco tempo de brincadeira, mas para quê? Teremos, eventualmente, tempo para aproveitar o tempo que andamos a queimar? Será que, passaremos horas de descanso, sentados no alpendre como nos filmes? Será?
O melhor é mesmo aproveitarmos o momento em “carpe diem” já dizia o outro senhor. Às vezes chateia-me o “ah, devias ser mais organizada para teres mais tempo de qualidade com eles…“, sim, também eu sou uma Margarida e sim, também eu passo o dia a correr, em contra-relógio, mas também vos digo que todos os nossos momentos em família são tempo de qualidade: as idas para escola são acompanhadas de músicas que aprendemos, as voltas são cheias de perguntas mais ou menos filosóficas, há tempo para perguntar como correu o dia de cada um. Há tempo para uma história ao deitar. Há tempo para partidas de monopólio e passeios no parque ao domingo de manhã.
É o tempo que queríamos ter? Não, isso nunca o será, mas como já disse, o tempo é relativo e os nossos minutos valem, sem sombra de duvida, uma vida.