Esta semana tem sido marcada por alguns temas que podemos chamar de quentes, com algumas decisões e orientações, quer a nível nacional, quer internacional. Na semana em que se relembraram as vítimas do Holocausto, diversas notícias têm surgido sobre a crise dos refugiados na Europa e no meu pensamento se firma a conclusão que nos esquecemos das lições que a História nos ensinou e que a Europa de hoje está a passar um claro problema, uma espécie de crise de terceira idade, onde a arrogância dos egos de um poder antigo se mistura com uma espécie de Alzheimer civilizacional.
Nos últimos temos visto, em termos dos programas dos cursos superiores, uma redução substancial de temas ligados à História. Creio que esse é um dos maiores erros que poderemos fazer em termos culturais, pois se não conhecermos o caminho que percorremos, se não tivermos aprendido com ele, dificilmente saberemos dar passos num sentido de evolução. Seria, de certa forma, o mesmo de tomarmos decisões nas nossas vidas sem nos recordarmos do nosso passado.
Se tivermos em atenção as notícias que surgem vindas da Dinamarca, da Suécia, da Inglaterra e do País de Gales, da forma como tem sido gerida a situação dos refugiados do Médio Oriente, compreendemos que algo não está bem na gestão de crise europeia, nos fundamentos do pensamento e da filosofia em que a Europa foi fundada ou, tão simplesmente, talvez nos tenhamos andado a enganar uns aos outros ao longo de séculos. Se na Suécia se prepara a expulsão de dezenas de milhares de refugiados, na Dinamarca confiscam-se bens acima dos 1340 Euros, e no País de Gales obrigam-se essas pessoas a usarem pulseiras. Relembra-nos algo que não queremos, de forma alguma, que se repita.
Ao mesmo tempo, em Itália, taparam-se as estátuas nuas que constituem parte do património artístico universal, parcela essencial, nomeadamente, da cultura europeia, pela visita do presidente do Irão, e ambos os governos recusam responsabilidades por tais actos. A justificação foi que seria inadequado para o Presidente ver nus. As críticas automaticamente surgiram, tocando um ponto que, a meu ver, é muito plausível. Por muito que queiramos respeitar a cultura de um outro povo, não podemos, de forma alguma, negar ou esconder a nossa.
Se os dois temas parecem desconexos, a base é fundamentalmente a mesma. A maior crise que a Europa vive, hoje, no seu global, é cultural. O velho continente atingiu a terceira idade, mas em vez de respeitar a sua História, elevar a sua cultura e a sua sabedoria, continua a tentar competir numa base que precisa de ser reinventada e reconstruída. Se déssemos mais valor à nossa História, compreenderíamos isto com a maior das facilidades e o pensamento estratégico das instituições europeias, nomeadamente da União, seria substancialmente diferente. Talvez, quem sabe, encontrar-se-iam soluções para alguns problemas que nos têm atazanado a cabeça há muito tempo. Contudo, é a ganância de poder e riqueza, de ser uma potência global num tempo onde as potências já para nada servem, que nos tolda o pensamento e nos faz desaprender as lições que a própria História nos ensinou.
Como várias vezes digo, é urgente recuperarmos o sentido de humanidade, pois é ele que nos irá permitir percorrer estes caminhos da forma correcta e gerir, da melhor maneira, situações como a dos refugiados (e não só). Sem essa humanidade, muitos dos fundamentos que construíram a sociedade europeia são inúteis, assim como toda a sabedoria reunida ao longo dos séculos. No entanto, agora precisamos de subir alguns patamares, evoluir noutros caminhos, libertarmo-nos de algumas prisões que, na verdade, nós próprios criámos, e, eventualmente, tornarmo-nos, novamente, os pioneiros de uma mudança mundial onde os velhos e caducos sistemas são deitados abaixo e novas ideias surgem. Se pensarmos bem, essa é também a História da Europa e, acredito, poderá ser a História do futuro.