Esta semana não escrevo sobre notícias, mas sobre um programa televisivo: O Dilema. Desde há meses, uma afável senhora muito loira e bem penteada, qual avozinha e mãe de muitos de nós, nos entra de sopetão pelo meio do zapping tv adentro, deitando as cartas em directo – tecnicamente faz leituras de Tarot. Esta pessoa vulgar, de aparência cuidada e vestidos de modista, comunica com pessoas vulgares, pois tem um dom que partilha, com o custo de 60 cêntimos por chamada (mais IVA). Podem chamar-lhe vigarista, aproveitadora, mas ninguém é obrigado a telefonar.
Não percebendo eu muito de lançamento de cartas, há, contudo, algo que me fascina. Direi antes que há que lhe reconhecer o seu domínio da comunicação, do improviso, das perguntas chave, de uma interpretação quase adivinhatória das deixas do telespectador e uma boa capacidade de fazer generalizações.
No entanto, é a sua positividade que mais me fascina, pois todos os dias, no intervalo da repetição do número de telefone para o qual devem ligar para terem direito a uma consulta, ou a um piroso brinde benzido, os ouvintes recebem doses massivas de positividade, de coragem, de proactividade. Este abrir de olhos para que as pessoas deixem de ser umas coitadinhas, que resolvam os seus problemas e partam para outra é algo único na tv e no país.
Esta militante determinada pode não ser boa taróloga, pode errar tudo o que lê nas cartas (não faço ideia), mas aquilo que diz pode ser fundamental e vale mais do que muitos programas de informação, de futebol, ou de entrevista à maioria dos nossos políticos. Como os seus amuletos, pode ser muito pirosa para uns ou uma impostora, para outros. Porém, para muitos será certamente a força e a alegria que desfazem um pouco a solidão e a infelicidade. E isso vale muito mais do que 60 cêntimos.
Retirem todos dela essa mesma mensagem: Força!
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