Ser-se guionista não é fácil. Ser-se guionista em Portugal é ainda mais difícil, dizem os profissionais do nosso país. Tiago R. Santos é um desses casos de criadores de histórias que vivem no anonimato, mas que ajudaram a criar fenómenos de bilheteira.
Mais de 230 mil pessoas foram às salas de cinema portuguesas para assistir à história de “Call Girl”. Realizado por António Pedro Vasconcelos, o filme foi escrito por Tiago R. Santos, mas pouco ou nada ouvimos dizer sobre este último.
Há uns anos, o argumentista partilhou uma história que descreve a falta de reconhecimento que a profissão ainda atravessa no nosso país. Resumidamente, o texto contava que uma vizinha de Tiago tinha comprado o DVD do “Call Girl” e que queria que os actores assinassem a capa. O guionista manifestou desconforto em ter que voltar a contactar os actores e ofereceu-se para ser ele próprio a assinar, mas a vizinha recusou. E ainda lhe disse que adormeceu a meio do filme.
Ao lermos a história, podemos ficar indignados. Contudo, Tiago R. Santos explica que “só deve haver uma motivação para quem deseja escrever para o cinema e televisão: uma vontade irresistível de contar estórias”. Por isso, a fama não cabe no meio. A ideia é que, numa profissão que caracteriza como “instável e solitária”, só vingam, em Portugal, os argumentistas que trabalham para o formato de telenovelas.
Mas os problemas de quem escreve as histórias de audiovisual não acabam aqui. Prazos apertados e exigências incompreendidas são as dificuldades mais apontadas pelos guionistas.
Numa paródia que serviu de lançamento ao livro de banda desenhada “¿DÓNDE ESTÁ EL GUIONISTA?“, o escritor Andrés Palomino e o ilustrador Àlex Roca fazem o retrato da profissão que vive na sombra:
Eis alguns factos:
- O normal, no nosso país, é que os guionistas sejam freelancers.
- Em Portugal, os guiões são escritos de borla e só são pagos se forem produzidos. Nos Estados Unidos da América, uma produtora interessada num guião “aluga” o argumento ao autor para garantir a exclusividade da obra, independentemente de vir ou não a ser produzida.
- Quando os guionistas trabalham como empregados de empresas televisivas, podem ser remunerados mensalmente.
- No caso da televisão, os guionistas cedem os direitos às produtoras, que os cedem depois aos canais televisivos.
- Não há uma lei que diga que os argumentistas portugueses têm que ser remunerados pelas edições em DVD.
As discrepâncias nos modos de actuação em Portugal e nos Estados Unidos da América têm factores económicos e sociais na sua origem. Por outro lado, as diferenças resultam elas mesmas em realidades económicas e sociais distintas.
Todavia, há algo de que podemos estar certos: gostamos de boas histórias. É premente que se dê mérito àqueles que as criam.