A Guiné equatorial fica em África, mas a maioria dos portugueses pouco sabia sobre este país até há pouco tempo. Em Julho de 2012, a CPLP recusou o pedido da Guiné Equatorial de ser aceite como membro de pleno direito desta comunidade. As razões apontadas foram os progressos insuficientes na introdução do português e as constantes violações dos direitos humanos no país. No entanto,na cimeira de Dili o pedido foi aceite, mas com uma condição: tinham que abolir a pena de morte ( que observadores internacionais dizem que ainda ser uma prática recorrente no país).
Agora é o décimo segundo membro da comissão de países de língua portuguesa. Entrou a 23 de Julho de 2014.
Só que a sua entrada foi bastante tumultuosa. Membro da CPLP, o regime é regularmente denunciado, por organizações de defesa dos direitos humanos pela violenta repressão contra os opositores políticos, organizações independentes da sociedade civil e os ‘media’, e ainda pela amplitude da corrupção no país. Têm como lema:” Unidade, paz e justiça”, mas nenhum destes pilares é assegurado.De acordo com o “US Trafficking in Persons Report”, de 2012,a Guiné Equatorial é uma fonte e destino para mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado e tráfico sexual.
Muitos são os problemas que afectam a imagem que temos da Guiné Equatorial.
Para começar, não falam português. As línguas oficiais são o espanhol (conseguiram a sua independência a 12 de Outubro de 1968. Antes da independência exportavam café e cacau), o francês e agora o português. Pelo menos é o que um decreto oficial do presidente da república (que todos acusam de ser um ditador) obriga e o instituto Camões já se encontra no local para difundir uma língua que une mais de 200 milhões de almas, espalhadas por todo o mundo. Uma das regiões da Guiné, a ilha de Bioko (a antiga Fernando Pó), fora portuguesa pela altura das incursões em África.Em 1493, D. João II proclamou-se como Senhor da Guiné. O território passou para mãos espanholas em 1778.
Muitos dos detractores acho que a entrada deste país para a organização têm como único objectivo a lavagem de dinheiro, alcançado com operações pouco licitas, e a defesa de uma imagem mundial que não está muito favorecida. A Transparency International colocou a Guiné Equatorial no top 12 da sua lista de estados corruptos.
A constituição de 1982, escrita com a ajuda da ONU, dá a Obiang amplos poderes, incluindo nomear e destituir os membros do gabinete, fazer leis por decreto, dissolver a Câmara dos Deputados, negociar e rever tratados. Também serve como comandante-em-chefe das forças armadas.
Para além de pertencerem à CPLP, também fazem parte da ONU, da UA e da Francofonia.
As suas ligações perigosas, especialmente a que liga o presidente Obiang ao regime norte-coreano, em nada ajuda a imagem do país junto dos países ocidentais. Os dois países costumam realizar trocas económicas. A última foi um sistema de vídeo-vigilância para “combater a delinquência” em Mongomo, a terra natal do Presidente Teodoro Obiang Nguema. Este sistema de segurança vai ser implementado em todas as cidades do país, criando um autêntico “Big Brother” que vê e controla tudo. No final de Março, o presidente Obiang Nguema afirmou que o seu país enfrenta ameaças “terroristas”, numa alusão ao grupo islamita nigeriano Boko Haram, que actua nas vizinhas Nigéria e Camarões, apesar de a ameaça se situar a mais de mil quilómetros da capital.
Em 1996 ,foram encontradas grandes reservas de petróleo no país.A Guiné equatorial é o terceiro maior produtor de petróleo, em África, mas as divisas alcançadas com o ouro negro em nada têm estado a ajudar a população daquele país, que têm o tamanho do Alentejo. Uma investigação do Senado dos Estados Unidos de 2004, no Banco Riggs, descobriu que a família do presidente Obiang tinha recebido enormes pagamentos de empresas de petróleo dos Estados Unidos, como a ExxonMobil.
No Carnaval deste ano, o “elogio” que a escola de samba Beija-Flor fez ao país valeu-lhe o primeiro lugar. O corso carnavalesco foi financiado pelo regime de Teodoro Obiang.Porém, a Beija-Flor não se livrou da polémica pelo alegado financiamento de três milhões de euros. O actual presidente foi apontado pela revista Forbes como o oitavo governante mais rico do mundo.
O ponto de partida era,de acordo com a descrição do samba-enredo da escola, “mostrar que é possível, sim, ter esperança de que um povo massacrado, cansado e desiludido seja capaz de renascer, aos poucos, com sonhos vigorosos, planos precisos e metas concretas, projectando uma nova África”.
Teodoro Obiang Nguema dirige o país com mão de ferro, desde a sua subida ao poder em 1979,após um golpe de Estado,realizado contra o seu próprio tio Francisco Nguema, que assassinou milhares de opositores. Nguema usava a ignorância do povo e muita propaganda para se manter no governo, pelo terror, até que foi deposto, em 1979. A taxa de alfabetização em 1992 não ultrapassava os 52%, e tendo em conta que a população adulta atinge uma faixa que vai dos 15 aos 65 anos(a esperança média de vida para as mulheres é de 63 anos).
O sobrinho foi reeleito em 2009, com 95,37 por cento dos votos.Em algumas regiões administrativas, chegou a ter 101% dos votos, o que demonstra a falta de transparência destas eleições. Só que este país, que é liderado há 35 anos pelo mesmo homem, não evoluiu em quase nada ,durante todos estes anos. Em 2004, foi realizado um golpe de estado para derrubar o presidente Teodoro Obiang, com capitais britânicos. Este golpe falhado teve grande repercussão internacional. Parte dessa repercussão pode ser devida ao envolvimento de Mark Thatcher, filho da ex. PM britânica.
Mesmo assim, a escola insiste que o Governo de Malabo (um atelier de arquitectura portuguesa esta a projectar uma nova capital com o nome de Djiblho), apenas forneceu “apoio cultural” e mostrou-se agradecida. Assistiram ao desfile uma comitiva de 40 personalidades do país, incluindo o Presidente e o seu filho Teodorín (que todos afirmam ser o sucessor do pai). Já há 11 anos que as personalidades máximas deste país passam o Carnaval no Rio de Janeiro.
Não é a primeira vez que os patrocínios às escolas de Carnaval cariocas – um evento cada vez mais profissionalizado e no qual em média cada escola gasta 1,5 milhões de euros anuais, enfrentaram críticas. Em 2006, a escola de samba Vila Isabel foi financiada pelo Governo venezuelano em troca de um desfile elogioso ao regime de Hugo Chávez.