A sociedade dos Rankings

Quando se quer comprar um livro, mas ainda não se sabe o quê, uma das primeiras coisas que se faz é abrir o computador e ver que livros há, no momento, nas lojas. Aparecem os TOPs: Top 10 dos mais vendidos, os bestselleres do momento, os tops de uma loja ou de outra, etc., etc. O mesmo acontece na música, nos filmes, nos jogos de computador, entre muitos outros produtos. Até mesmo quando falamos da educação, ouve-se falar nos rankings. Quem não ouviu sobre os rankings das melhores universidades, ou das melhores escolas do país, que tanta polémica geraram.

A tendência de categorizar, encaixar em gavetas as coisas dispersas à nossa volta é uma característica das sociedades actuais, que tendo tanta informação à sua volta, precisa de organiza-la para uma compreensão mais fácil. Porém, afinal o que é que são os rankings?

Os rankings, segundo Sibele Fausto e Rogério Mugnaini, são listas de classificação ordinal hierárquica. Estes autores falam dos rankings universitários e dizem que ao nível global, estes rankings monopolizam as atenções e ganham uma importância cada vez maior, influenciando também as políticas e o desempenho institucional, tomando, a partir destas listas, decisões sobre o investimento, ou sobre a reestruturação institucional. “Os rankings, como expressão da sociedade globalizada, induzem, de forma prescritiva, uma homogeneização de políticas e desempenho institucionais e nesse contexto, inserem-se numa cultura de avaliação baseada em indicadores”, dizem os autores.

Vários estudos debruçaram-se sobre os rankings na educação, mas poucos sobre o efeito dos rankings na cultura e na vida social. Até que pontos é que estas listas influenciam a escolha dos produtos que se compra. Até que ponto estas listas limitam a opção das escolhas que se fazem.

Raramente procura-se para além do óbvio, ir mais além do que aquilo que vemos como os ´melhores´ dum determinado tipo de produto. No entanto, será que os ´melhores´ produtos são mesmo aqueles que estão presentes nas listas? Não estaremos a perder outras opções talvez tão, ou mais, interessantes do que aquelas apresentadas? Talvez seja o nosso ritmo de vida que impõe esta escolha. Não há tempo para procurar mais, a atenção muito fugaz faz com que se escolha o que está mais visível. É mais rápido, mais cómodo, mais fácil.

E muitas vezes, nem se dá conta que há motivos económicos por trás destas listas, ou as vantagens que estas trazem para os vendedores.

Quem escolhe os sites que vamos abrir, quando procuramos por algo na Internet? O Google. Sim, o Google, a não ser que seja outro o motor de busca que se use. Ele faz quase que um “ranking” dos resultados para a nossa pesquisa. Um “ranking” em função de quais são os sites mais visitados, em função de com quem a empresa tem algum contrato, ou em função de um pagamento por parte do dono do site. Muitas vezes, blogues pessoais ficam muito escondidos neste mar de informação, só sendo encontrados, quando são especificamente procurados.

Assim, as “sociedades dos rankings” são, para Colin Renfrew, e Stephen Shennan caracterizadas por disparidades sociais que são muitas vezes acompanhadas por uma concentração de poder nas mãos de poucos indivíduos.

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