O nome pode não dizer nada para os mais jovens, mas para quem viveu os anos 60 e 70 do século passado era sinónimo de luxo e de festa. Os tempos não eram fáceis e o acesso a certas diversões estava interdito à maior parte da população. Afastado de Lisboa, na outra margem do rio, apresentava uma estrutura arrojada e apelativa: hotel, motel, apart-hotel, piscina, campo de ténis, lago artificial, praça de touros, restaurante e “boate”, nome dado às discotecas na altura. Tudo num espaço largamente arborizado e situada à beira duma estrada nacional.
A primeira piscina olímpica foi aqui construída e tinha cinquenta metros de comprimento e pranchas de dez metros. No lago existiam barcos a remos e os courts de ténis estavam sempre ocupados. Havia motas para explorarem os bosques e o acesso à praia da Fonte da Telha foi alargado para que os hóspedes chegassem mais cedo ao seu destino. As equipas de futebol da selecções internacionais usavam o local como centro de estágio e pernoitavam nas suas instalações.
Inaugurado em 1957 manteve-se em funcionamento até ao princípio dos anos 70. Inicialmente era um negócio muito lucrativo, mas depois de ter sido ligado a outro tipo de negociatas, acabou por ser vendido em hasta pública e comprado por uma senhora jugoslava que tinha fugido da invasão alemã. O objectivo era continuar a manter as estruturas com a mesma finalidade, acrescentando ainda mais pequenas vivendas.
A inovação estava na ampliação de que seria alvo e que se estenderia por vários hectares, onde se pretendia construir o primeiro centro comercial do país. No entanto o projecto não passou do papel pois o local foi ocupado por umas forças revolucionárias que aproveitaram para o saquear. Não lhes bastou que destruíssem tudo, por isso, ainda roubaram o recheio. O que tinha sido um luxo passou a uma ruína e com marcas muito fortes e persistentes de enorme vandalismo.
A proprietária ainda tentou ser indemnizada pelos prejuízos sofridos, mas sem sucesso. O luxo que outrora era a marca e um ícone, passou a uma mancha de destroços que passa despercebida para quem não sabe que existe. As vivendas parecem casinhas de brincar, salpicadas aqui e ali, mas sem grande préstimo. Outrora onde os ricos gastavam o dinheiro, passou a ser uma zona de guerra oculta.
O espaço tem sido palco de inúmeras actividades, mas nenhuma delas com grande sucesso. As paredes servem de telas para quem se aventura a fazer qualquer rabisco, mas sem valor algum. Foi palco de um filme português de ficção científica e os restaurantes que se aventuram, fecham as suas portas tão rápido como as abriram. Nem mesmo a discoteca consegue manter os seus clientes.
Como em qualquer local que perde a sua frescura e glamour contam-se lendas e por aqui também as há. Um casal de americanos apareceu morto, numa das vivendas, o que gerou todo o tipo de histórias. Seriam espiões e os filhos teriam sido poupados. Nunca se soube o que aconteceu. Igualmente se menciona outro assassinato, mas no restaurante e ainda se fala de pessoas que morreram a saltar das altas pranchas. Tudo com um véu de enormes negatividades.
Hoje é um local abandonado que suscita algumas invasões de pequenos grupos organizados. Uns porque querem deixar a sua marca com grafitis que consideram atraentes, mas não passam de rabiscos gratuitos e insípidos, outros aproveitam o cenário semi dantesco para gravar vídeos de trabalho ou de simples lazer. Nem mesmo a proximidade de um quartel de bombeiros parece afastar os curiosos e os destruidores.
Ficará para sempre na memória dos que conheceram o espaço, como um local desejado, mas não acessível a todas as bolsas. Havia quem fosse espreitar, entre a vegetação, para sonhar com um futuro próximo que um dia aconteceria. Contam-se histórias sobre as senhoras que o frequentavam, os seus vestidos, os carros de luxo, os motoristas e os artistas da moda que tinham os seus espectáculos sempre cheios.
Há uma pergunta que fica no ar: haverá futuro para um espaço tão atraente quanto este? A Câmara Municipal não tem planos e só mesmo os investidores mais destemidos e arrojados possam apresentar uma solução exequível. Tudo está em aberto e o futuro continua a ser uma enorme incógnita. Tal como a vida que tem tantos altos como baixos e um dia chega, inevitavelmente, ao fim.
Já utilizava o novo acordo ortográfico, ‘selecção’?!
Não, não usamos o novo acordo ortográfico. Portanto, selecção encontra-se correcto 🙂