Poetas Sul Brasileiros

Quando se ouve falar no Brasil, todos pensam em carnaval, praias, calor. Tudo isto existe, claro, de norte a sul do país, mas particularmente no sul temos dias de muito frio também, em algumas cidades serranas é comum nevar durante os meses de Inverno. É uma região com cultura e tradição típicas e, entre muitas outras coisas, também destaca-se a poesia:

                              Bilhete

                              Se tu me amas, ama-me baixinho
                              Não o grites de cima dos telhados
                              Deixa em paz os passarinhos
                              Deixa em paz a mim!
                              Se me queres,
                              enfim,
                              tem de ser bem devagarinho, Amada,
                              que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

Este poema é de Mario Quintana, que além de poeta, foi tradutor e jornalista, nasceu no dia 30 de julho de 1906 na cidade de Alegrete, no interior do Rio Grande do Sul, estado brasileiro mais a sul que faz fronteira com Uruguai e Argentina, deixou o seu nome marcado na história da literatura brasileira do século XX. Faleceu há 25 anos, no dia 05 de maio de 1994.

Considerado o “poeta das coisas simples”, com um estilo marcado pela ironia, que podemos ver em algumas das suas frases:

     A Carta

Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.

      A Grande Surpresa

Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo…

     O Trágico Dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Mario Quintana, ao lado de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, divide o posto de autores brasileiros mais citados na Internet, mas não pode ser considerado um poeta além-fronteiras, sendo ainda pouco conhecido fora do Brasil.

O poeta não casou nem teve filhos. Viveu sozinho grande parte da sua vida em hotéis. Primeiro, residiu no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre, de onde foi despejado, quando o jornal Correio do Povo, para quem escrevia, encerrou temporariamente as suas atividades por problemas financeiros. Foi, então, que o ex-jogador e técnico da seleção brasileira de futebol, Paulo Roberto Falcão, cedeu-lhe um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade.

Por último, uma conhecida dele, contratada para registrar em fotografia os seus 80 anos de idade e que achou que o quarto no Hotel Royal pequeno, ouviu Quintana dizer: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas”. Essa mesma conhecida conseguiu, então, um aparthotel no centro da cidade, onde o poeta viveu até à sua morte. Ao conhecer o espaço, ele se encantou: “Tem até cozinha!”

Em 1982, o prédio do Hotel Majestic, que fora considerado um marco arquitetónico de Porto Alegre, foi tombado. Em 1983, a pedido dos fãs gaúchos do poeta, o governo do estado do Rio Grande do Sul adquiriu o imóvel e transformou-o em um centro cultural, batizado como Casa de Cultura Mário Quintana.

Mario Quintana tentou por três vezes ficar com uma vaga na Academia Brasileira de Letras, instituição de notáveis da literatura brasileira, mas em nenhuma das ocasiões foi eleito. Ao ser convidado a candidatar-se uma quarta vez e mesmo com a promessa de unanimidade em torno de seu nome, o poeta recusou.

     “Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro.”  Mario Quintana

     “Se Mário Quintana estivesse na ABL, não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a própria Academia.”  Luís Fernando Veríssimo

O poeta por ele mesmo: “Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro — o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu… Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros? Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo — que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras”.

O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

– Mário Quintana

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