A amizade é um amor incondicional. Uma união, diferente da relação amorosa, encontra no desprendimento emocional o cúmulo da afectividade. É uma espécie de “negócio” frio que abrilhanta a alma. Frio no sentido que muitas vezes é injusto e “mal-agradecido”. Nós pensamos que os nossos amigos vão estar sempre connosco e que podemos contar com eles para sempre, mas a verdade é que os tempos mudam, e com eles as vontades, como dizia Camões.
É preciso saber contornar as vicissitudes afectivas da nossa passagem por este mundo. É preciso saber que, em média, em 10 anos perdemos metade dos nossos amigos. E se é verdade que à medida que a idade avança as amizades são mais sólidas e garantidas, quando somos jovens achamos que é para sempre. Tal como no amor. Só depois percebemos que tudo é vão – e que o destino é inexorável. Miguel Esteves Cardoso, um dos escritores portugueses mais emblemáticos do nosso tempo, a esse respeito, dizia que “o tempo não passa pela amizade, mas a amizade passa pelo tempo”.
O tempo é o que define uma boa amizade? A sua duração? Ou a qualidade, a intensidade como é vivida? O que nos acrescenta, o que nos dá valor, um propósito… Tal como no amor, a amizade é um sentimento oblativo, que não se prende (ou não se devia prender) a superficialidade, a senãos, a definições. Vive-se, em plenitude e comunhão com o ser que somos e que fazemos questão de ser. Ao que aspiramos alcançar, emocional e humanamente.
A esse respeito, Saramago, aquele que na minha opinião é o mestre da nossa história literária portuguesa, dizia: “não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. O que ele quer dizer com isto é que as pequenas coisas – aquelas que, no entanto, têm um enorme valor intrínseco dentro de si – levam tempo, são tão importantes que chegam apenas no timing certo.
Essa altura certa só chega quando menos esperas. Por isso, até lá conserva as tuas amizades com carinho e lembra-te que o que é bom demora tempo. A amizade é um presente eterno que vale a pena ser imortalizado.