Ex Machina

Alan Turing teorizava que o maior dos testes seria convencer alguém de que uma máquina pode ser um humano, em Ex Machina esse desafio é por vias de um arrastado quid pro quo (quase digno dos famosos contos de Thomas Harris), que debaterão as linhas ténues da própria integridade humana.

O que se precisa para ser humano? Ou o que nos faz ser realmente humanos? São perguntas sem resposta aparente, que Alex Garland (argumentista usual dos filmes de Danny Boyle) tenta provar através de um thriller conduzido em territórios de ficção científica, elaborando os elos que unem e que por sua vez complementam as divergências entre matérias (a carne e o sintético). Desde os contos de Isaac Asimov e de Philip K. Dick, que não nos aventurávamos em territórios maleáveis da inteligência artificial e da consciência humana em contraste com a tecnologia, no acto da criação quase divina, e nos perigos que a criação em si poderá trazer, enquanto ser consciente, ou até mesmo inconsciente. Por outras palavras, é um festejo assistir a um filme tão astuto vindo daqueles lados [Hollywood], assumindo a sua artificialidade e os artifícios de espectáculo cinematográfico, sem nunca ser induzido ao espalhafato do entretenimento tal como havíamos presenciado nos recentes Transcendence e Automata.

O que nos faz diferenciar das máquinas? Qual a verdadeira essência do ser humano?
O que nos faz diferenciar das máquinas? Qual a verdadeira essência do ser humano?

Assim sob rascunho de velhos clássicos da literatura gótica de terror, influências de Bram Stoker ali e de Mary Shelley acolá, Ex Machina centra-se em Ava (alusão à bíblica Eva), o protótipo genuíno da inteligência artificial (interpretado por uma mimetizada Alice Vikander), que é sujeita a um número quantitativo de testes para provar a sua autenticidade, enquanto produto munido de consciência humana. No seio deste teste, encontramos a “cobaia nº 2” (Domhnall Gleeson), um génio da informática que cedo começa a tecer sentimentos pela respectiva “máquina“, e por fim, o arquétipo moderno de cientista louco (Oscar Isaac), cuja presença desequilibrada atenta o espectador para eventuais twists.

Este trio, amoroso ou não, é formidavelmente “atado” por uma química pecaminosa, que assenta como uma energia para a sua narrativa discreta, quase minimalista, porém, acentuada por uma carga psicológica impar. Resultado disso é o de termos um filme graficamente e argumentativamente simples, mas dotado de um intelecto único e minado por pequenos “mind blowers“. Ex Machina ainda detém um outro pormenor interessante dentro da indústria hollywodesca, aqui os efeitos visuais são meros escravos da narrativa, auferindo credibilidade a esta e não o oposto. Como tal, é por estas e por outras que não é atentado aclamar que estamos perante num dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos. Uma surpresa!

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