– Como correu o dia?
– Bem, mas estou cansado, nunca mais chega o fim de semana.
O cansaço é uma queixa frequente. Este curto diálogo já foi dito/escutado por qualquer pessoa. O pior é que todas as semanas vivemos neste loop, acompanhado por um ciclo salarial mensal: temos uma ânsia desmesurada pelo ‘’Dia de São Receber’’. Quando este finalmente chega, rapidamente os nossos encargos se encarregam de ‘’aspirar’’ a maior parte do dinheiro creditado, renovando o nosso desejo pelo final do mês. Com o arrastar dos anos, parece que cada vez o final do mês é mais moroso. Um amigo meu de longa data, Doutorado em Ciências Biomédicas, investigador bolsista em Londres, diz-me em conversa que ‘’hoje em dia não há ninguém que não seja precário’’. Esta metamorfose decadente da classe média em classe baixa é cada vez uma realidade, pois o parco aumento dos salários não acompanha a inflação dos bens de primeira necessidade, já para não falar do preço exagerado das rendas. A cada dia, o Sol nasce para cada vez menos pessoas. Esta constante preocupação pela subsistência e por uma vida digna é apenas um dos factores que estimula o cansaço. Além disso, existe este oxímoro vivencial de quanto mais tempo estivermos inactivos, mais facilmente o cansaço se acumula.
Este queixume regular deriva de muitos outros: demasiado tempo nos ecrãs (a quantidade de pessoas que se vê vidradas no telemóvel enquanto caminha num dia solarengo assusta-me), bombardeamento de informação, rotinas demasiado stressantes e aceleradas, distância até ao local de trabalho e a forma como chegamos a ele e más escolhas nutricionais. É sobre este último factor que me vou tentar focar (sei que me disperso muitas vezes, mas um tema específico pode ramificar e concatenar umbilicalmente a outros assuntos. Além disso, ver uma parte como o todo pode ser um caminho perigoso). Há um ano atrás, decidi enveredar pela profissão de explicador. O meu ponto forte é a Matemática, mas tento dar auxílio aos miúdos em Ciências da Natureza. Como a memória é falível, por vezes tenho a necessidade de estudar de novo e reaprender os conteúdos (e com gosto, diga-se de passagem). Sou da opinião que se lermos o mesmo livro ou matéria em diferentes idades, a experiência vivenciada não é a mesma. Somos nós e a nossa circunstância. Ler o Principezinho aos 13 anos não é a mesma coisa que ler com 31. Há um tempo apropriado para se lerem certos assuntos e reflectir sobre eles. Mesmo quando dou explicações de Matemática a alunos do Ensino Universitário, reparo que tenho uma perspectiva e um entendimento completamente diferente comparado com a altura em que precisava mesmo de ter positiva no Exame.
Isto para dizer que, ao recordar o tema das cadeias alimentares do 8º Ano de escolaridade, tive a seguinte epifania- o Sol é a principal fonte de energia da biosfera, e acabe aos produtores captá-la. Nos seguintes níveis tróficos (consumidores de ordem n), 90% da energia do nível anterior é perdida, deixando de estar disponível para os níveis tróficos sucessivos. Existe, assim, um fluxo de energia unidireccional.
Se a maior parte da energia é acumulada nos produtores e se as sementes e frutas também são boas reservas de energia e nutrientes. Será isso significado de que se basearmos a nossa alimentação em seres autotróficos, maior energia estará disponível para absorção? Pode ser um começo para nos sentirmos mais vitalizados e energizados. Claro que se torna redutor falar apenas no aspecto energético, pois a forma como a energia está contida (macro e micronutrientes) é bem mais importante. A questão é que a maior parte destes nutrientes também está contida nos produtores. Fica a dúvida se será suficiente para mitigar o nosso cansaço. É certamente um começo, já que para resolver um problema recorrente é preciso uma junção de factores. Colocar dúvidas e questionar é um bom hábito, principalmente quando parece que hoje em dia todos estamos a escrever sobre certezas.