Não dá para mais

A situação na Venezuela é cada vez mais crítica. A violência nas ruas agudiza-se e o regime ditatorial liderado por Maduro está cada vez mais entrincheirado e não dá sinais de ceder nos próximos tempos.

A manietada crise económico-financeira orquestrada pelo Ocidente e Arábia Saudita, por causa do petróleo tem sido uma espécie de suplemento vitamínico do regime de Maduro. Já a população venezuelana é quem mais tem sofrido com isto, facilitando, assim, o recrutamento de indivíduos violentos por certas “organizações” que fazem das manifestações anti-ditadura uma autêntica batalha campal, retirando, desta forma, toda e qualquer razão que a fraca oposição a Maduro tem em todo este tenebroso assunto.

Hoje em dia, a Venezuela é um país completamente abandonado por todos os seus vizinhos. Esta já foi, inclusive, expulsa do Mercosul, ficando inibida de toda e qualquer relação comercial privilegiada com os países da sua região. Provavelmente a única relação comercial internacional que o país de Maduro terá é com Cuba e mais uma dúzia de Estados que estão interessados no crude venezuelano.

É neste cenário que surge a possibilidade de a União Europeia (EU) vir a aplicar sanções à Venezuela, caso o regime de Maduro opte por convocar uma Assembleia Constituinte. E, face ao que tem vindo a público, Portugal não parece estar com intenção de votar favoravelmente a tal posição por parte da UE. E, bem vistas as coisas, esta será uma posição inteligente, dado que este caminho das sanções internacionais não é, nunca foi, nem nunca será a solução de problemas como o da Venezuela.

E não é preciso uma ginástica mental muito apurada para se perceber por que razão concordo com a suposta posição portuguesa. Senão vejamos…

Cuba é uma ditadura que vem sendo sancionado há décadas pelos Estados Unidos da América, mas o regime cubano mantém-se firme e pelos vistos irá manter-se imutável por muitos mais anos.

O Irão é já há muitos anos um Estado religioso totalitário que vem sendo sancionado internacionalmente há anos a fio. Tudo se mantém na mesma, não obstante a recente abertura deste país ao Ocidente.

Recentemente, a Rússia de Putin foi e é fortemente sancionada pela UE e pelos EUA, por causa da anexação da Crimeia e por uma suposta participação na guerra civil que ainda hoje divide a Ucrânia em duas partes distintas. Qual o resultado de tal? Zero! A Crimeia continua a fazer parte da Federação Russa e a guerra civil ucraniana parece ter vindo para ficar.

A Coreia do Norte, o país mais isolado e sancionado do Mundo, ainda recentemente mostrou que não é com sanções, nem com manobras militares nas suas fronteiras que o mundo conseguirá colocar um ponto final no rígido e sombrio regime norte-coreano.

Mais exemplos existirão que demonstram a ineficácia das tais “sanções”. Daí que me pergunte, face ao que vamos vendo a acontecer numa Venezuela – onde ninguém tem razão -, os políticos europeus (e não só) não terão capacidade para ir mais longe do que o discurso formatado de sempre? A Venezuela necessita de soluções e não de quem agudize ainda mais os seus agudos problemas.

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