O imortal imortalizado

A vontade de perdurar e de atingir a imortalidade é uma característica do ser humano.

Muitos dos retratos que vemos em museus e exposições, são encomendas dos próprios para eternizar a sua imagem. São escolhidos os artistas que o melhor sabem fazer, pela qualidade da sua arte ou técnica, mas sempre com o intuito de “ganhar a eternidade”. 

A arte habilmente cria essas memórias que perpetuam no tempo com os retratos, sejam eles pintados ou em fotografia. Os próprios artistas que imortalizaram outros, imortalizam-se a si próprios nas suas pinturas, como fez Velázquez e tantos outros.

Ao mesmo tempo que fica retratado para a posteridade, dá o seu cunho, a sua assinatura com a presença registada na tela. Pessoalmente, sempre que vejo o artista retratado na própria pintura, penso nele de duas formas: o intruso ou o espião.

O intruso é aquele que aparece por “acaso” e que se coloca no retrato por fazer parte dele, o retrato do retrato. Seja por iniciativa própria ou até por algum acordo com o cliente, não sabemos. É quem o faz, por isso decidi o que o mesmo deverá conter. Pode ser puro narcisismo ou um toque histórico para também ele ficar presente na obra, não sabemos…

O espião que é o que está presente, não faz parte do retrato, não está excessivamente exposto, mas também não está escondido, fica numa posição subtil, mas presente. Por vezes, nem se sabe se é quem pinta ou apenas mais alguém que ali ficou. Numa foto, é mais fácil de isto acontecer, numa pintura terá mesmo de ser por decisão do artista, já que não é um processo tão imediato. Mais uma pergunta sem resposta…

Não deixa de ser engraçado fazer estas considerações. Já que a arte existe mesmo para isto, para nos questionar e fazer pensar. Criar ou contar uma história, mas nunca para nos deixar indiferentes!

Seja como for, por vaidade ou apenas por vontade o artista que irá imortalizar e ficar imortalizado pela sua obra, cria mais um espaço para que a sua presença não se perca apenas na sua assinatura e técnica. Quando olharem para alguns retratos de museus, pensem nisto. Vejam com atenção se algumas caras não são familiares e se não estará por lá um intruso ou um espião!

Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico

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