Gostar vs Não Gostar

Durante muito tempo alimentei a ideia que deveria gostar de toda a gente e que toda a gente deveria gostar de mim! Talvez pela necessidade de me sentir apreciada pelos outros e como retribuição pelo apreço, deveria gostar deles de igual modo. Por isso, sempre que não gostava de alguém perdia muito tempo a pensar nas causas e razões desta ocorrência. Qual seria o problema? Se não óbvio, no caso de pessoas mal educadas ou agressivas, que outras motivações poderiam existir? E se eu não gosto da pessoa isso significa que ela também não gosta de mim?

Não entendia como é que alguém não poderia gostar de mim! Sim, porque sempre me esforcei para me dar bem com todas as pessoas e gostar das pessoas que fui conhecendo ao longo da vida, ou seja, consciente de todo este esforço, parecia-me disparatado alguém ter a ousadia de não gostar de mim. Efectivamente esforçava-me muito para as coisas funcionarem assim, até que a experiência de vida começou a produzir o seu milagre.

Não é só um pouco tolo como não faz qualquer sentido gostar-se de toda a gente e muito menos faz sentido todas as pessoas gostarem mim.

Dito assim é tão óbvio que parece absurdo pensar-se de outra maneira.  Mas o comportamento humano é uma lição de aprendizagem continua e eu não sou excepção, foi preciso mudar para ter esta clarividência. Claro que existem pessoas de quem não gostamos, porque não simpatizamos, não pensam como nós ou simplesmente não sentimos qualquer afinidade com elas e isso não quer dizer que essa mesma pessoa não goste de nós ou até que essa pessoa não seja extraordinária, nós é que não achamos! E não tem mal nenhum. Cada um, dentro dos seus parâmetros sabe as razões para gostar ou não gostar. Como se costuma dizer: “não se consegue agradar a gregos e a troianos” só precisamos saber qual dos dois tem mais a ver connosco.

Mal comparado, gostar de toda a gente poderia ser igual a gostar de toda a comida do mundo e eu não consigo comer queijo e não suporto sushi ou carne crua. Nem sequer é saudável, gostarmos de todas as pessoas ou acharmos que todas as criaturas ao cimo da terra irão gostar de nós. Como é que iríamos conseguir estabelecer critérios e defesas para enfrentarmos o mundo? Neste modo de aceitação permanente iríamos tornar-nos vulneráveis a todo o tipo de maldade que algumas pessoas usam para proveito próprio. Portanto, o gostar ou não gostar é mais uma estratégia de sobrevivência que cada um de nós desenvolve para se proteger.

Uns vão amar-nos, admirar-nos, proteger-nos e estar ao nosso lado. Outros vão detestar-nos, humilhar-nos, caluniar-nos e distanciar-se. Nesta dualidade permanente que existe no mundo, é assim que temos de viver, como definem as leis herméticas: “Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

Photo by Greg Bulla on Unsplash
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