Indomável
Pura e simplesmente não consigo. A arte de bem fazer um rabo de cavalo é algo que admirei desde a infância. Nessa altura, tinha cabelo liso e acachapado, mesmo junto às orelhas e sem ondas (sim, eu sei que parece impossível, mas também fui loura clara na minha primeira infância e degenerei em morena) e mesmo assim nem rabo de cavalo nem ganchos prendiam o meu cabelo.
O ideal
O belo rabo de cavalo, com um look clean, elegante e muito profissional é o rabo de cavalo ideal. Sei que, secretamente, todos os rabos de cavalo querem ser assim.
Claro que nada disto faz parte da minha realidade. Com ganchos, com elásticos, com cabeleireiro, com prancha, com secador, com escova (lisa ou de enrolar), com pente e até (imaginem o desespero!) com trança associada a rabo de cavalo – nada resulta. E cá vou andando, à espera que alguém me salve do meu próprio cabelo. Na verdade, acho que devia haver uns Príncipes especializados neste serviço de socorrer donzelas em apuros com o cabelo, uma espécie de salva-Rapunzéis. Para quem não sabe, a Rapunzel é a idiota de conto de fadas que deixou que um magano qualquer subisse e descesse de uma torre enorme utilizando a trança que ela tinha feito no cabelo. Será que o Príncipe se preocupava se ela estivesse despenteada? Acho que não. Desde que a trança fosse forte e a matéria-prima aguentasse a descida, para o Príncipe a Rapunzel era, nesse momento, a mulher mais bela do mundo.
Socorro!
Há muitas situações embaraçosas que surgem ao longo do dia com base nesta minha incapacidade de dominar a arte de bem fazer um rabo de cavalo.
No ginásio, o suor escorre por entre as madeixas do meu cabelo que se soltam enquanto corro que nem uma perdida na passadeira. Além disso, o meu cabelo consegue ficar encaracolado e formar como que um véu de caracóis molhado em torno da minha cabeça, estilo halo de ser iluminado mas em formato de cabelo desgrenhado. Nem com trança ultrapasso esse efeito de auréola suada. Com este desastre capilar em curso, se quiser fazer olhinhos aos homens que treinam não posso – e eles são tão giros!
No trabalho, desisti. Penteio-me quando chego, em cada pausa e na hora de refeição. Ponho espuma e produto anti-frizz no cabelo e parece sempre que o retirei do secador de roupa mais próximo ou que o tentei passar a ferro na tábua de engomar ali da vizinha.
Decisão radical
Por isso, decidi cortar em mais de dez dedos o comprimento do meu cabelo. A cabeleireira confirmou que realmente o cabelo estava demasiado longo e cortei o cabelo, com uma franja comprida e bastante mais curto. Optei por uma espécie de bob informal. Má ideia, minha gente, má ideia! Nunca mais consegui fazer um rabo de cavalo decente. Nem alisando o cabelo e contendo o cabelo com dois elásticos e com ganchos consigo evitar o efeito despenteado. Quando solto o cabelo, parece que não o penteio há dois dias. É tudo e mais alguma coisa, amaciadores, máscaras, produtos caseiros, comprimidos, laca, espuma… e nada! O cabelo recusa-se a ser disciplinado seja de que forma for.
Teoria preciosa
Desenvolvi, então, a minha «teoria preciosa»: o cabelo é como um animal de estimação, pois reflete a personalidade de quem o tem. Por mais direitinha que me apresente, tenho sempre um lado rebelde e subversivo – o meu cabelo é igual. Tento portar-me bem, mas nem o cabelo, nem eu, aguentamos muito tempo essa postura de menina bem-comportada. Esqueçam. Já me resignei.
Há muito tempo que prometi a duas pessoas que iria fazer um curso de cabeleireira. Assim que concluir o mestrado é o que farei. Saberei, de uma vez por todas, se, com as técnicas desse ofício, conseguirei finalmente aprender a arte de bem fazer um rabo de cavalo. Mesmo que não resulte, pode ser que arranje um part-time num salão a lavar cabeças ou a prender cabelos em rabos de cavalo mais ou menos perfeitos. Sempre dá para ganhar uns trocos.