José Pacheco Pereira, conhecido historiador e comentador político da nossa praça, disse publicamente que a história nunca se repete. Ora, face ao que aconteceu recentemente na Síria, apetece-me perguntar a Pacheco Pereira se acredita mesmo que a história nunca se repete.
E coloco tal questão, porque a forma como França. Estados Unidos da América e Inglaterra resolveram intervir numa questão grave (suposta utilização de armas químicas na Síria), cujos factos estão (e se calhar continuarão) por provar, faz recordar os sórdidos tempos em que um conjunto de aliados resolveu levar a cabo a invasão unilateral de um estado soberano sob o pretexto de uma ameaça que o Mundo veio a saber – muito mais tarde – que não passava da criativa imaginação de um programador de simuladores de guerra.
A pequena grande diferença entre o sucedido no Iraque no passado e com a Síria no presente não é aquela ideia de que “só fomos ali dar umas bastonadas à malta para impor a ordem e nada mais”. Esta foi a mensagem que Emmanuel Macron, actual Presidente francês, fez passar e que a Comunicação Social e um vasto número de comentadores fizeram eco naquela de que “uma mentira contada muitas vezes se torna verdade”.
Macron deveria saber que tudo o que diz e faz se deve pautar pela extrema cautela e responsabilidade. No entanto, não o fez e, pelos vistos, este terá, inclusive, sido o orgulhoso autor moral de um ataque unilateral ao território sírio feito à revelia de toda e qualquer legislação internacional com base no famoso pretexto do “porque sim”.
Acredito que esta postura de Macron se tenha devido – talvez – ao facto de este ter faltado às aulas de História em que os alunos e alunas aprendem que a Síria já deixou de ser uma colónia francesa há umas largas décadas. Porém, o Presidente francês está ainda a tempo de aprender que a França já não tem um vasto império colonial (tal como a Inglaterra) e que os Estados Unidos da América não são os “Donos disto Tudo”.
Voltando “à vaca fria”, bem vistas as coisas, o pretexto e Modus Operandi (MO) deste perigoso e populista “trio” de líderes ocidentais (Macron, May e Trump) é exactamente o mesmo dos aliados de 2003, até porque, salvo prova em contrário, ainda não se sabe quem foi que lançou o suposto ataque químico numa cidade e região que as tropas de Bashar al-Assad tinham acabado de libertar das mãos das forças rebeldes.
Dito de uma forma mais simplista: o que aconteceu na Síria em 2018 foi, sem tirar nem pôr, o mesmo que aconteceu no Iraque em 2003.
Portanto, ao contrário do que diz Pacheco Pereira, a história repete-se. O que não se repete são as consequências da sua repetição.