A dúvida da maioria das pessoas neste tema reside em como uma mulher vive a sua sexualidade após um episódio ou vários episódios de abuso sexual. Este é um assunto tão delicado que poucas pessoas falam verdadeiramente nele. Melhor dizendo, falam de como esta mulher se sente após a violência, mas não como segue a sua vida adiante. Isto porque receiam transformar as inseguranças em algo que esvai com tempo ou terapia e elas na verdade, nunca desaparecem.
A mulher vive a sua vida sexual de forma tão própria que é difícil até padronizar, há mulheres que conseguem viver experiências com um certo alguém que não o conseguem viver com mais ninguém.
A ideia que sempre propagou de que “a mulher não sabe fazer sexo sem amor” é uma ideia romantizada que é bem mais complexa do que isso para ser reduzida a tal. A questão é do foro psicológico, salvo algumas exceções, a mulher é corpo e cabeça, os dois têm de entrar em sintonia. Para esses dois entrarem em sintonia, ela precisa confiar que a pessoa que está a viver uma experiência sexual a respeita, respeita o seu corpo e até onde ela está disposta a ir, que não lhe cobre coisas que ela não se sinta confortável. É no quesito conforto, que vou tentar espelhar um pouco estas vozes silenciadas. Em relação à questão corpo e cabeça, há algo que serviu de argumento para sofrerem o dito abuso, que é o aspeto que talvez as diferencia de homens. Sim, uma mulher pode estar excitada no seu corpo, mas ainda assim a sua cabeça não consentir o ato sexual, inclusive o seu corpo sentir prazer e a sua cabeça repulsa. A cabeça e o corpo precisam estar em equilíbrio para o sexo ser algo saudável no seu íntimo.
É importante também que a sua moralidade não seja questionada, independente daquilo que lhe dê prazer em fazer. Não, a mulher que é abusada um dia, nem sempre vive a sua sexualidade de forma tímida e contida em tudo o que se pode agregar ao sexo ou à ideia dele. Isso depende única e exclusivamente de ela se sentir segura com a pessoa com quem está a ter uma experiência sexual. Que este companheiro respeite a mulher erótica e não a torne vulgar por isso. Ela precisa se sentir sem julgamentos machistas, precisa de compreensão e que não seja motivo de deboche numa roda de amigos.
O motivo por que tantas mulheres sofrem tantos abusos sexuais, muitas vezes de namorados é com o argumento de “estarem provocadoras”, sejam na forma como se vestem, como dançam, como falam, como agem nas redes socais. Há aqui uma verdade extremamente delicada de admitir, que dá asas a julgamentos errados. Verdade esta que a mulher gosta de se sentir sensual, nem por isso ela quer ser um objeto sexual. Qualquer pessoa gosta de se sentir desejada, mas que esses desejos sejam silenciosos, que não sejam um incómodo, só venham ter com ela se houver permissão e for consentido. Esta é para mim a linha que separa até o assédio do charme ou “flerte”, se és alguém que está a ler este artigo, pára, entende se aquilo que fazes em algum momento foi recíproco, se não for, por favor muda a tua atitude daqui em diante.