Alex North (1910- 1991) foi um dos mais brilhantes compositores para cinema da história de Hollywood. Foi nomeado para 15 Óscares, mas não ganhou nenhum (só mais tarde receberia um Óscar pela carreira, atribuído pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas). Alguns dos grandes filmes da era dourada de Hollywood tiveram a sua invulgar marca musical modernista (fusão de jazz com música erudita): Um Eléctrico Chamado Desejo (1951); Spartacus (1961); Cleópatra (1964); ou Quem Tem Medo de Virginia Woolf (1967). O seu legado musical marcou grande parte da criação musical para cinema da segunda metade do século XX, com compositores como John Williams, Jerry Goldsmith, ou Hanz Zimmer a reclamarem a influência directa de Alex North.
No entanto, em toda a sua carreira existe um episódio, no mínimo curioso e inusitado, que se passou entre Alex North e o realizador Stanley Kubrick. Em 1967, North foi convidado por Kubrick – com quem tinha trabalhado no filme Spartacus – no sentido do compositor compor a música original para o filme 2001: Odisseia no Espaço (1969), clássico absoluto na filmografia do cineasta. Alex North contou, numa entrevista, que ficou muito entusiasmado com o facto de voltar a trabalhar com Kubrick e com o desafio de musicar um filme tão especial. Ambos tiveram várias reuniões de trabalho preparatórias para acertar os pormenores da música relativamente à história do filme. Alex North compôs cerca de 40 minutos de música, quase sem ver imagens do filme. Kubrick demorou muito tempo a aceitar a composição de North e um dia o compositor recebeu um telefonema a dizer para não continuar a compor a música. Para seu espanto, Kubrick mudara de ideias e, como se sabe, optou pelas composições já existentes de Richard e Johann Straus e Ligeti (música que ficou para sempre associada às imagens da obra-prima de Stanley Kubrick). Kubrick nunca se justificou publicamente acerca desta mudança repentina de solução, mas é lógico pensar que não terá gostado da música original do compositor.
Alex North sempre disse que tinha sido uma grande frustração profissional e uma desilusão pessoal o facto de ter composto a música e o cineasta a ter recusado, ainda que concordasse que as sequências com a música dos Strauss resultavam muito bem no filme. Posto isto, é comum aceitar-se historicamente que a música original que Alex North compôs para o filme de Kubrick é, talvez ainda hoje, a mais famosa partitura rejeitada da história do cinema e, simultaneamente, uma das mais fascinantes. E assim é, de facto. A composição de North, apesar de nunca ter sido utilizada para as imagens de 2001: Odisseia no Espaço foi editada em CD e merece uma atenção muito especial. É uma música de grande vigor orquestral e energia rítmica, com uma tendência para dissonâncias particularmente marcantes, que foram pensadas para os momentos mais dramáticos do filme. Claro que agora soa estranho ouvir determinadas sequências do filme de Kubrick com a música composta por Alex North, uma vez que a relação imagens-música que Kubrick engendrou se tornou um paradigma estético difícil de destronar no imaginário do espectactor.
No entanto, acaba por ser um exercício bem interessante ver e ouvir os primeiros 5 minutos do filme com a música inicialmente pensada e composta para o efeito por Alex North. Se conseguirmos a capacidade de abstração suficiente para esquecermos as imortais composições “Also Sprach Zarathustra” e “The Blue Danube“ e escutarmos com atenção a música de Alex North, constataremos que o trabalho deste compositor para o filme de Kubrick foi uma trabalho de grande exigência formal e, acima de tudo, perfeitamente adequado ao poder das imagens criadas por Kubrick. Para conhecer esta versão musical alternativa de Alex North (para os créditos iniciais do filme), basta fazer play neste vídeo.