Dar Novos Mundos ao Mundo

Numa semana marcada por trocas milionárias no futebol português, adiamentos de pagamento ao FMI por parte da Grécia, enquanto tenta um acordo com a União Europeia, e pelo início da campanha de “bota-abaixo” entre a Coligação e o PS, um estudo do Eurostat (mais um) vem dizer que os portugueses são o povo mais infeliz da Europa, apenas suplantados pelos búlgaros. A razão para tal, simplesmente a do costume, o poder económico.

Somos infelizes, enquanto povo, apenas e unicamente porque não temos a coragem de sermos nós mesmos, olhando a galinha do vizinho e achando sempre que ela é muito mais interessante e melhor que a nossa. A história é antiga e mesmo antes da dita crise, no tempo das vacas gordas, já tal acontecia, pois, para nós, nunca está nada bem, mas também não temos a coragem para mudar as nossas vidas.

Falo no plural, porque esta é uma característica de uma nação, não é geral, felizmente, senão não teríamos, de todo, identidade. No entanto, é algo intrínseco ao português, a vivência da pobreza e da tristeza. Na verdade, sinto que os portugueses não são um povo infeliz, mas sim um povo frustrado com a sua vida, com o seu caminho, com a sua história, nomeadamente a mais recente.

Veja-se que os miúdos, como desde há algumas gerações, deixaram de escolher o seu caminho por vocação e passaram a fazê-lo por oportunidades de trabalho, por nível monetário que se pode obter nesse mesmo trabalho e que perspectivas de vida poderemos obter. Muitos, a meio dos seus cursos, já vivem frustrados com o seu caminho e começam a ser jovens adultos revoltados com a vida.

Falta-nos a coragem, tantas vezes, de seguirmos uma vocação profunda enquanto povo, a de sermos grandes timoneiros de transformação deste mundo em que vivemos. Não é uma questão de política, de governos ou de oportunidades, é uma questão de nos permitirmos ser nós mesmos e de largarmos deste sentimento de nostalgia constante, também ele gerado pela ilusão de poder e de glória, do grande império que ficou perdido na História. Choramos pelo que perdemos, mas não percebemos que fomos nós os que, um dia, por fado ou por inspiração, descobrimos o mundo que existia à nossa volta.

Mais uma vez, é isso que nos é pedido, que sejamos audazes, não por vontade de sermos ricos ou de sermos o povo mais desenvolvido do mundo, o grande centro de economia, ou o local onde as fontes são feitas de ouro, mas sim pela determinação de podermos trazer ao mundo aquilo em que somos melhores, a ponte entre o desconhecido e um mundo que necessita de se transformar para se tornar em algo melhor, mais vasto, mais extenso.

Não é por meio de revoluções constantes que lá chegaremos, mas sim pela força do compromisso de ser mais do que eu mesmo, pela decisão de marcar a diferença, pela vontade de querer mudar. Só dessa forma podemos mudar a nossa mentalidade e criar as verdadeiras oportunidades que tanto nos queixamos de faltar, compreendendo que, noutros tempos, para dar novos mundos ao mundo, foi preciso o engenho e a arte, não uma bandeja colocada no nosso colo.

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