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Era uma vez a casa de banho da Barbie

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Na minha altura de criança – que convínhamos não foi assim há tanto tempo (quero eu acreditar com todas as forças, enquanto cerro os punhos e os olhinhos na esperança que o desejo se concretize) –, as meninas brincavam com bonecas e os meninos com carrinhos. Era assim, pronto. Não havia mal nenhum nisso, mas também não se discutia o assunto até à exaustão como nos dias de hoje. No entanto, eu nunca fui de seguir padrões e era menina com M maiúsculo para jogar ao berlinde (será que ainda se diz assim?), lançar o pião, andar de bicicleta ladeira abaixo e esbardalhar-me de cima de uns patins de 4 rodas, daquelas paralelas lado a lado e que se calçavam por cima dos sapatos.

Felizmente, sempre tive a liberdade de brincar com aquilo que mais aventura trouxesse, sem imposições de género ou coisa que o valha. Vai daí, que um belo dia, vejo no supermercado da aldeia a coisa que mais me encantou naquela altura da vida:

– Senhoras e senhores, a casa de banho da Barbie!

Atenção que não era a Barbie sereia, a Barbie grávida ou a Barbie e o Ken. Era a casa de banho!

Para mim, aquela pequena amostra de sanita, bidé e lavatório faziam todo o sentido, ora não fosse a casa de banho um sítio usado por toda a gente! Chateei a minha mãe, o pai, o tio e os avós até a conseguir e consegui!

A casa de banho da Barbie veio para a minha casa, contudo, não era a Barbie quem a utilizava. Ora, vejamos: há 25 anos, as Barbies não se vendiam em qualquer sítio e não eram propriamente baratas. Ainda que hoje em dia também não sejam, infelizmente, caminhamos nesta estrada cheia de buracos, fendas e falhas em que dar tudo aos filhos é que é bom e correcto, mas, na minha infância, não era assim e ainda bem!

Eu não tinha Barbies, até porque não lhes achava piada nenhuma, eram altas (e eu era baixinha), eram magras (e eu era gordinha), tinham maminhas (e eu ansiava por tê-las), eram louras (e eu era morena)… Portanto, está-se mesmo a ver que eu sempre preferi as Barriguitas! Como o próprio nome indica, assemelhavam-se muito mais à minha pessoa.

A casa de banho era gira, as Barbies não! Nem me fazia sentido nenhum sentar a lady da Barbie na sanita! Coisas…!
Não sei se o facto da fisionomia da Barbie não ser semelhante à minha terá sido o motivo pelo qual não a ambicionava. Sei que, felizmente, esse modelo tem vindo a desconstruir-se e a dar lugar a algo bem mais ajustado àquilo que é a nossa sociedade, pois, desde a sua criação em 1959, a Barbie é criticada por grupos feministas por perpetuar padrões de beleza e, pela primeira vez, em 2016, esta muda de formato, surgindo, então, com novos tamanhos, formas de corpo, cor de pele e cor de cabelo. Porque a verdade é que nunca sonhei ser uma Barbie (com tudo o que isso implicaria), nem nessa altura, nem depois de crescer, mas há quem sonhe. Há miúdas que tomam aquele exemplo de mini-pessoa como a pessoa adulta que querem vir a ser, ou pior, que acreditam ser o indicado, por ser o modelo a que têm acesso.

Embora estejamos no bom caminho naquilo que é a imagem e a mensagem que passamos aos nossos filhos, serei sempre do team Barriguitas!

Calhando, um destes dias tenho a miúda a perguntar-me se devemos ser todos barrigudos…! Oh well…!

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Susana Correia
Quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, não sabia responder. Podia ter sido advogada, comediante, atriz ou vendedora, porém como nunca conseguiu escolher, decidiu ser escritora e assumir todos os seus possíveis alter-ego. Acredita que tudo acontece por um motivo, na força e no poder do pensamento e em energias positivas e negativas. É autora dos livros infantis "A Aventura da Pulguinha Aurora", "Aurora Pelo Mundo Mágico da Amizade" e "De Pernas P'ro Ar". É, também, autora do blogue "Pózinhos de Perlimcóco", e ainda, coautora da coletânea "O Tempo das Palavras com Tempo" com o conto "Por Ti". Um dia perfeito é passado na natureza com a filha como companhia, a máquina fotográfica, um livro e as folhas secas de outono.

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