Mais de 6 milhões de pessoas são o rosto da taxa de desemprego de 27,16% espanhola, nível histórico atingido no mês de Março, na quarta maior economia europeia. Os jovens até aos 25 anos, com uma taxa que ultrapassa a fasquia dos 50%, e os imigrantes são os grupos mais afectados, reflectindo um cenário vivido por várias economias da Europa do Sul. Os sinais da vizinha Espanha, traduzidos nos cortes dos gastos sociais e pacotes de medidas de austeridade, são familiares aos milhares de portugueses que vivem na mesma situação, numa crise que chegou em 2008 e parece não querer acabar.
Pelas 17 comunidades autónomas espanholas, os números batem recordes e entram para a História. As filas para o centro emprego aumentam de dia para dia, no primeiro trimestre do ano mais de 2,5 mil empresas abriram falência, os cortes na ordem dos 10% nas pensões e os despedimentos no sector público a rondar os 200mil postos de trabalho estão a despoletar o empobrecimento geral dos espanhóis.
De acordo com a Cáritas, o aumento da pobreza nas famílias espanholas está a crescer exponencialmente. Calcula-se que cerca de 6,4% da população, que perfaz um total de 3 milhões de habitantes, viva abaixo do nível de pobreza absoluta, sendo que, os pedidos de ajuda às instituições de solidariedade triplicaram no último ano.
Face a esta conjuntura, a revolta nas ruas, materializadas em inúmeras manifestações e greves, tem sido a resposta encontrada por uma sociedade espanhola indignada, que se sente lesada nos seus direitos e quer ver restituída ao povo o poder de decisão politica. Os movimentos que exigem uma democracia mais participativa nas comunidades autónomas proliferam e reclamam a soberania popular.
Perante um cenário cada vez mais difícil de gerir, a UE já deu luz verde para que a meta do défice abaixo dos 3% seja atingido apenas em 2016 e não em 2014, ou seja, assim o governo de Rajoy terá mais tempo para atingir o défice exigido por Bruxela. “O adiamento da correcção do défice excessivo (para menos de 3% do PIB) em 2016, é coerente com a actual análise técnica levada a cabo pelos serviços da Comissão sobre o que seria um percurso de consolidação orçamental equilibrado – mas ainda assim ambicioso -, tendo em conta a difícil situação económica”, lê-se numa nota divulgada pela Comissão Europeia.
No entanto, acompanhada desta concessão veio um conjunto de recomendações por parte da Comissão Europeia que defende que seja feita uma revisão ao sistema tributário até Março de 2014 e uma subida dos impostos sobre o combustível. Uma reforma no sistema de pensões, com a introdução de um factor de sustentabilidade, a conclusão da reforma laboral e a implementação de medidas activas de emprego são outras das sugestões feitas por Bruxelas.
Caso estas “recomendações” sejam aplicadas, uma nova onda de contestação e descontentamento se espera da sociedade espanhola, que ainda que repartida pelas questões nacionais e de identidade, se uniu para reclamar aquilo que acredita ser seu por direito.