O PS de Costa e os seus desafios

Com 18 anos, a estudar Direito na Universidade de Lisboa, António Luís Santos da Costa, lisboeta, já militava no PS. No decorrer da sua actividade política, Mário Soares foi acarinhando-o. Na verdade, este sentimento nunca deixou de haver. Entretanto, terminando a academia e depois de cargos governamentais, chega à liderança da capital lusa, em 2007, após a saída de Marina Ferreira, pelo PSD. A capital cresceu e o número de turistas aumentou exponencialmente. Reeleito em 2009, com 40,22% dos votos, e em 2013, com maioria absoluta, permanece na autarquia lisboeta.

Porém, o ano de 2014 fica marcado para os socialistas como um ano de divisão e de divergência. Depois das tentativas de penetração na liderança do partido, António Costa consegue vencer António José Seguro, um penamacorense de 57 anos, militante desde os 14, por uma percentagem superior a 70%. Este cenário verificou-se naquelas que foram as primeiras eleições primárias a acontecerem em Portugal. Tudo isto graças à boa vontade de Seguro.

Passaram cem dias e o partido mergulha, permita-se a expressão, “em banho-maria”. De vez em quando, surgem umas propostas de lei para o Parlamento, ou pedidos de revisão constitucional. A alguns meses das legislativas, quando questionado sobre medidas para o governo que deseja constituir, em breve (caso seja eleito), as palavras são poucas, dado o facto de desconhecer se tais medidas poderão ser aplicadas no seu mandato. Além disso, o fim da circulação de carros com data inferior a 2000, ou as declarações positivas sobre o país (aquando das comemorações do Ano Novo Chinês) foram, entre outros, dois acontecimentos marcantes.

No entanto, o ex-secretário-geral do PS apresenta uma visão diferente. Como? Acompanhando a realidade ao pormenor, indo às terras mais recônditas do país, reunindo a sociedade civil nas ‘Conferências Novo Rumo’. Acercando-se das pessoas com dedicação. Conferindo, activamente, a possibilidade de participação dos portugueses em geral na elaboração de um programa governamental (com o Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal – LIPP). Fazendo-se acompanhar de especialistas nas mais diversas áreas, que ajudassem a mostrar o grau de aplicação das medidas propostas. No decorrer das primárias, Costa acusou, por múltiplas vezes, indiretamente, Seguro de não saber o que estava a fazer. Chegou mesmo a dizer, no debate da SIC, após a razia do debate da TVI, que o programa que o seu oponente apresentava apenas incluía “seis propostas e meia” novas. Só que, tal como acordado, perdendo as eleições, obtém o lugar e o seu oponente demite-se.

Tendo passado mais de 100 dias, parado, a postura deste novo líder do PS começou a ser diferente. Medidas afluem lentamente à superfície, reuniões com economistas acontecem, conversas com outros partidos se reatam, luzes para um possível Governo se dão…

Porém, ainda se revela muito insuficiente. O partido está em modo de zombie, que começa a levantar-se, ainda que a muito custo. Além disso, este Secretário-Geral não destaca a mudança como Seguro. Há muito a fazer. Conseguirá preparar-se convenientemente para as legislativas previstas para finais de Setembro? Conseguirá mostrar vontade de mudar o rumo do país aos portugueses e às portuguesas? Conseguirá mostrar que consegue seguir em frente, mesmo com todas as adversidades (como a prisão de Sócrates, a gestão da Câmara Municipal de Lisboa…)? E se António José Seguro voltasse? Ficam as questões.

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